domingo, julho 31

A flor de silício

(pseudo-opereta, cantata aos novos-tempos)

Introdução

(palco escuro; de-improviso, acende-se uma luz sobre um manequim paramentado de apretrechos electrônicos; o resto do palco continua no escuro)
Tenor
Vede, vede, a musa
com a sua nova cornucópia.

Coro masculino
(acende-se a luz sobre o coro)
Ah, não tem mais frutas!
Será um castigo?

Coro feminino
(acende-se a luz sobre o coro)
Ah, não tem mais trigo!
Qual será o fado?

Tenor
Não, isso são coisas do passado;
agora, da sua trompa
vêm as fibras ópticas.
Vamos, não façam tromba.

Coro masculino
E guaraná transgênico;
novos itens higiênicos,
palm-tops, bandas-largas,
capacidades fartas
dos discos rígidos;
também o fim dos homens frígidos,
e dos tabus rígidos.

Coro feminino
Mas será que todo esse arsenal raro
não será demasiado caro?

Coro dos empresários
(pode ser uma repartição do coro masculino, vozes de barítono)
Ah, não sede lerdos!
Sede lépidos,
sede rápidos,
usai os vossos cartões de crédito.

Coros feminino e masculino
É bom, mas temos de pensar.

Coro dos empresários
Pensar? Mas é tão bom se alienar!
Comprai sem raciocinar
e logo vos atingirá o bem-estar.

Barítono (dramático)
Mas e os nossos séculos de cultura?

Tenor (preocupado)
A cultura! [pausa] E os juros?
E as prestações venturas?

Soprano (efusiva)
Brasília nos orientará.
Do Oiapoque ao Chuí,
da Vila Madalena ao Pari;
certamente nos guiará.

Governo (contra-tenor; histérico - entra num ritmo ensandecido e batendo os pés absurdamente enquanto se movimenta no palco, puxando os cabelos com as mãos)
Verde-amarelo!
Verde-amarelo!
O FMI só nos deixa farelo.
Itaipu, que rima infame.
Deus abençoe nossa terra,
pois aqui todo mundo se ferra,
de verde-amarelo,
verde-amarelo!

Todos
Salve!
A Democracia; o Governo;
vós que sois a representação
desta nação.

Governo
Eu quem, cara-pálida?!
Não me venham com função fática!
Se contentem com o solo da Pátria,
onde dá tudo o que se planta.
Bebam fanta,
cacem anta!

Coro masculino (taciturno)
A caça é proibida.

Governo
Então, o que quereis,
dizei logo, pois nem é época de eleição.

Coro masculino e feminino
Queremos que você
regule a taxa de juros,
que nos tire dos escuro,
que nos faça essa mercê.

Governo
Taxa de juros?
Ho! Ho! Ho! Ho! Ho!
Mas isso não é assunto meu.
O Governo governa,
nessas coisas não se interna.
Fica à vossa opção:
uma vela pra Deus
e outra prò cabrão.

Coro dos empresários
Vamos! Não há perigos!
Vinde, somos todos amigos.
Seguis o nosso norte;
tende a nossa sorte.

Governo (com as mãos nas costas, totalmente alheio no fundo)
Itaipu, caju, samba, banana, caruru.
Vatapá, acarajé, senhor do Bonfim,
trempa de alienados, ho, ho!
Robalheira livre até o fim!

Coro masculino e feminino (ensandecidos)
Viva, viva a nova musa,
ergamo-lhe um monumento,
façamo-lhe uma instalação,
em honra da sua abundância,
da sua retumbância.
Placas de silício!
Vivas ao silicone!
Glória aos nossos novos Deuses:
o Consumo e a Tecnologia;
pela Farmacêutica moderna
nossa prole não terá mais alergia!

Consumo (tenor; tom declamatório)
Fiéis, fanáticos, ouvi!
Devotai-vos a mim,
que estou não só no meio de vós,
mas principalmente dentro de vós.
Ouvi!
Comprai!

(fim da introdução)

terça-feira, julho 26

Duas pequenas histórias sobre dinheiro

É notório que a situação econômica de meados da década de 1980 a 1994 foi catastrófica em vários sentidos; hoje a catástrofe não é tão aparente, porque um dos maiores sintomas e evidentemente tão perceptível quanto uma girafa dentro dum elevador, era o vórtice hiper-inflacionário. Para que a moeda brasileira (independentemente do da volatilidade numérica ou onomástica) mantivesse as aparências, o governo usou e abusou do recurso do corte-dos-três-zeros, onde mil unidades monetárias passavam a ser, à meia-noite de alguma data obscura, uma unidade monetária nova, tal-qualmente quando entramos no horário de verão. A inflação que beirou os 50% mensais, obrigou a Fazenda a fazer esse tipo de operação com alguma freqüência: no início de 1986 (quando mil cruzeiros passaram a ser um cruzado), em 1989 (quando mil cruzados passaram a ser um cruzado novo e depois mudou-se o nome da moeda, em 1990, novamente para cruzeiro, mas sem corte de zeros) e por fim em 1993, quando mil cruzeiros passaram a ser um cruzeiro-real. Fora a confusão dos zeros, o problema do nome; problemático principalmente para as pessoas de idade, algumas ainda tratando a moeda como mirréis – variante popular de mil-réis, unidade monetária até 1942 – e outras ainda mais proverbiais como vintém, tostão, pataca e cobre, cada uma com um embasamento histórico-social, que não cabe agora.
Da minha parte, lembro de duas ocorrências peculiares envolvendo meu pai, exímio crítico do Governo (independente de qual seja) e da Política Econômica (tanto faz se keynesiana ou neo-liberal). O curioso é que as histórias têm uma certa divergência.

I.

Estávamos na fila do caixa do mercado, eu, meu pai e minha mãe; a fila estava imensa, porque fora dia de pagamento o dia anterior e as pessoas tinham o costume de fazer as comprar do mês – e até para os dois ou três meses seguintes – de uma vez para que o dinheiro não desvalorizasse e perdesse 50% do seu poder de compra do dia 5 de um mês até o dia 5 do outro. Pois bem, a fila imensa, dez ou doze carrinhos lotados, o que gerava uma expectativa de pelo menos 40 minutos a uma hora de fila.
Meu pai e minha mãe conversavam sobre meu avô, pai de minha mãe que morrera recentemente – e era sempre muito bem lembrado nessas ocasiões por sua folclórica aversão a super-mercados – quando, de-improviso, papá quis conferir um preço de uma bolacha – ou de um pacote de guardanapos, não me lembro bem:
— 45 cruzeiros?
— Não, bem – fez minha mãe – 45…
— 45 cruzados. – interrompeu o genitor.
— Também não… são 45 cruzados-novos…
Papá fez uma cara de fastio e de pouca-importância.
— Se chamasse merda dava no mesmo…
— Benhê! – fez a minha mãe, numa raiva contida. — Mas é mesmo…

II.

Certa feita, estávamos eu e meu pai no ponto de ônibus, aguardando o colectivo para a Cidade (1). Um dia particularmente ensolarado, provavelmente de verão e eu felicíssimo, pois quando era menor, eu não desgrudava do meu pai. Parados na calçada, em frente a praça olhando para a rua de onde o ônibus deveria ter saído há bons vinte minutos, desceu um homem de terno, resmungando; olhei para o meu pai e ele também havia visto e observava o homem, que praguejava e olhava para o seu sapato. Papá abaixou até o meu ouvido.
— Olha lá; eu falo pra você olhar bem onde pisa; aquele ali pisou onde não devia.
— Onde pai? – fiz eu curioso.
— Onde os cachorros põe aqueles avisos de «não pise aqui», sem letras… lembra?
— Ah, lembro.
Ao final desse didático e lúdico diálogo entre pai-mestre e filho-aprendiz, o homem estava a não mais de três metrôs de nós e constatava-se facilmente que ele havia pisoteado massa fecal canina por alguma calçada acima. Meu pai me deu uma olhadela de canto-de-olho e indicou com a sobrancelha.
Nisso, o homem abriu a carteira, e tirou uma nota de dez cruzados e, sob o olhar perplexo de todos os presente no ponto, limpou com ela o bico do sapato onde parte da massa havia subido. Fez uma bolinha da nota e mandou-a longe. Meu pai olhou de novo para mim; achei estranho a reação do homem, e depois que ele entrou no ônibus para a Penha, tornou-se o assunto no ponto. Meu pai conversava com os outros candidatos a passageiro, indignado. Em casa, representou mimeticamente a cena para minha mãe.
— E pegou a nota de dez cruzados e, zac!, passou ela na ponta do sapato, sujo de merda; e fez uma bolinha da nota e poc! jogou-a no meio-fio!
Ao mesmo tempo que achava a atitude do homem de terno grosseira e de mau-gosto, dobrava de rir com o pasmo e assombro de meu pai, exagerados por grandes gestos.

(1) leia-se o centro da Cidade de São Paulo.

quinta-feira, julho 21

De um que percebeu seu papel no mundo

— E então?
— E então o que?
— Me contaram que você descobriu…
— É descobri sim.
— E qual é a sua função no mundo?
— Me enfastiar e afastar os outros. Mas sabe que essa descoberta me deu uma tranqüilidade impar, que há muito eu não sentia…? (de-improviso, os sinos das igrejas começam a badalar como jamais se viu, e vem o do solo o som dum coro de milhares de vozes cantando Slavsja!). Tchau, eu tenho de ir.
— Ir?! Ir pra onde? Nesse caos: veja! As pessoas correndo assustadas e se chocando!
— Pro tribunal do Juízo Final…

terça-feira, julho 19

Como?

«— Socorro, estou sangrando suco de framboesa!»
(Aleksandr Blok, da peça A barraca da feira de mostras, apud VOLKOV, Solomon: São Petesburgo, uma história cultural.)

sábado, julho 16

A Nova Contra-Reforma

Talvez a Humanidade ainda tenha salvação. Eu e Messer Orlando voltávamos ontem da região da Paulista e simultaneamente avacalhávamos um livro horrível que eu comprara numa daquelas maquinetas automáticas que tem em algumas estações do metrô. Inclusive, faço um pequeno parênteses, pois, naquelas máquinas venderam-se um dia livros de razoáveis a bons, hoje é o antro da pseudo-literatura, da auto-ajuda e das porcariadas orientalizantes.
Bem, mas voltando, estávamos no vagão, achincalhando com a excelsa porcaria Sociedades Secretas de um Sérgio Pereira Couto, quando, nas nossas costas, sobre a janela, uma publicidade onde figuravam fatias de alcatra assadas, uma mesa com saudáveis e alegres convivas e dizeres: Coma carne. Como? É isso mesmo; assinava-a um Instituto Pró-Carne. Primeiro voltará a carne, depois o toucinho, dirão que cerveja e cigarro são saudáveis, ressaltarão o valor nutritivio do cigarro acompanhado de café.
Vejo um futuro, vejo a queda dos Politicamente-correctos; uma Nova Contra-Reforma que virá para liberar a Humanidade; o governo deixará de fazer propagandas porcas e deixará os fumantes e seu livre-arbítrio em paz, os médicos das dietas absurdas serão enforcados e o mundo sentará novamente sossegado na mesa de uma churrascaria, sem o medo de ataques terroristas de grupos vegetarianos extremistas, que por incrível que parece, existem nos EUA. Será a nova aurora da Humanidade, depois do ocaso do politicamente-correcto.

terça-feira, julho 12

A América do Sul de pernas abertas

Perdão pelo meu vulgarismo, mas foi assim que me senti há poucos instantes – e continuo a me sentir – quando recebi uma mensagem do amigo Samuel, que o Paraguai concederá a tão almejada imunidade diplomática que pediam os estadunidenses (e que nós e a Argentina continuámos a nos recusar a dar), e a instalação da primeira base dos EUA na América do Sul em Mariscal Estigarribia, próximo da fronteira com a Bolívia e a 700 km de Foz do Iguaçu e da Usina de Itaipu. A decisão do Governo Paraguaio abre perigoso precedente, visto que os EUA não são um país confiável.
Será dado a eles a permissão transitar com tropas e equipamentos pelo território paraguaio sem prévia autorização de Assunção, além dos órgãos judiciários paraguaios não poderem julgar delitos cometidos pelas tropas no território de sua jurisdição. Ou seja, se aprovado o acordo, logo (não de jure, mas de facto) faremos fronteira com os EUA, justo em pontos vitais: as vias navegáveis do rio Paraná e a Usina de Itaipu. O Império Americano, apesar das previsões de seu declínio a longo prazo, tentará – talvez pela força – de manter sua influência econômica – e militar? – até quando não for mais possível sobre o seu quintal latino.

Leia mais.

sábado, julho 9

Considerações da semana

I.
Nesta semana que se finda hoje, pensei seriamente em parar de alimentar esse blogue, depois de quase um ano e sete meses (entre este actual e o anterior, o Mal-estar); além do mais, todo tipo de produção minha está atravancada (a pseudo-literaria então, nem se fala), mas uma amiga e colega de trabalho, salvou-me dessa decisão na tarde da última sexta-feira gélida, quando dum fático diálogo entre os funcionários e depois de eu ter dito que «o dinheiro dela, os duendes haviam levado»; ela rebateu e disse-nos (porque havia mais gente), que os duendes de escritório levam somente artigos de escritório (Segunda Praga burocrático-administrativa). Puxa, alguém conseguiu lembrar de um texto meu escrito há três meses! Realmente, a sexta salvou-se.

II.
Londres - Afinal, o que querem esse mulçumanos? Certamente, alguém clamará que os ataques são por causa da invasão do Afeganistão e do Iraque. Sim, é certo que há relação, mas quando dos ataques às Torres Gêmeas, do 11 de setembro de 2001, nem o Afeganistão e nem o Iraque estavam ocupados. Evidentemente que não venho defender os Estados-Unidos, país pelo qual nutro imenso desprezo como se não existisse, mas pela nossa qualidade de Ocidentais; a guerra é entre duas visões de mundo, onde esse mulçumanos radiais acreditam que duas civilizações (ou religiões) não possam estar sobre a mesma superfície. Embora nossa História não seja das mais limpas (Cruzadas, Inquisição, Pogroms, Holocausto), mas com o passar do tempo, aprendemos a usar as diferenças e a tolerar-nos (certo que em alguns lugares não), mas na maioria, o Ocidente se mostra coerente, com exceção ao Estados-Unidos e à Grã-Bretanha. Conseguimos fazer girar a roda do tempo; enquanto o Mundo Árabe, outrora civilização rica e florescente, é antro de ignorância.
É curioso como os papéis inverteram-se. Na Idade Média, nós éramos os fanáticos religiosos que caçavam bruxas e batiam em panelas quando dos eclipses, a cultura greco-latina sobrevivia em raras vivendas; os árabes, cultos e civilizados, cientificamente avançados. Eles se mantiveram e sua Civilização fechou-se em si, provocando esses fenômenos de exarcebação religiosa; enquanto o Ocidente foi se redescobrindo e tornando-se pouco-a-pouco o que conhecémos. Não é a maravilha moderna, ao contrário, é um tipo de Civilização alienante e cretina, mas onde é ainda permitido que as diferenças e divergências de visão convivam; ao contrário do mundo mulçumano, onde predomina o obscurantismo e a religião interfere na vida civil.
Os ataques a Londres serviu a mostrar a posição de sectores de Mundo Árabe; sim, eles almejam a nossa destruição como Civilização e nossos valores (um tanto quanto gastos e cretinos, mas nossos); não os defendo, nem os ataco; por isso sou partidário da retirada das potências Aliadas do Iraque e Afeganistão. A terra é deles, e se a guerra tiver de florescer entre eles, que floresça. Afinal, a nossa História Ocidental é contada quase que a partir das guerras.

III.
Ontem, eu e Messer Orlando fomos ver um filme dum director português, chamado Um Filme Falado, que apesar de o nome não dar idéia alguma, tem a ver com a questão Ocidente-Mundo Árabe; julgando, através, de uma chave de leitura, um ocaso absoluto do Ocidente - com Portugal na rabeira; segundo conclusão à qual chegou Messer Orlando.

quinta-feira, julho 7

Lovely spam! Wonderful spam!

Vale a pena, garanto: Spam, by Monty Python. Texto e audível (Real Audio). E ainda a Ode à Presuntada (Real Audio também).

quarta-feira, julho 6

Desideri

Vorrei essere un cactus.

terça-feira, julho 5

Il Testamento

(F.De Andrè - Monti)

Quando la morte mi chiamerà
forse qualcuno protesterà
dopo aver letto nel testamento
quel che gli lascio in eredità
non maleditemi non serve a niente tanto all'inferno ci sarò già

Ai protettori delle battone
lascio un impiego da ragioniere
perché provetti nel loro mestiere
rendano edotta la popolazione
ad ogni fine di settimana
sopra la rendita di una puttana
ad ogni fine di settimana
sopra la rendita di una puttana

Voglio lasciare a Biancamaria
che se ne frega della decenza
un attestato di benemerenza
che al matrimonio le spiani la via
con tanti auguri per chi c'è caduto
di conservarsi felice e cornuto
con tanti auguri per chi c'è caduto
di conservarsi felice e cornuto

Sorella Morte datemi il tempo
di terminare il mio testamento
datemi il tempo di salutare,
di riverire, di ringraziare
tutti gli artefici del girotondo
intorno al letto di un moribondo

Signor becchino, mi ascolti un poco
il suo lavoro a tutti non piace
non lo consideran tanto un bel gioco
coprir di terra chi riposa in pace
ed è per questo che io mi onoro
nel consegnarle la vanga d'oro
ed è per questo che io mi onoro
nel consegnarle la vanga d'oro

Per quella candida vecchia contessa
che non si muove più dal mio letto
per estirparmi l'insana promessa
di riservarle i miei numeri al lotto
non vedo l'ora di andar fra i dannati
per riferirglieli tutti sbagliati
non vedo l'ora di andar fra i dannati
per riferirglieli tutti sbagliati

Quando la morte mi chiederà
di restituirle la libertà
forse una lacrima, forse un sola
sulla mia tomba si spenderà
forse un sorriso, forse uno solo
dal mio ricordo germoglierà

Se dalla carne mia già corrosa
dove il mio cuore ha battuto il tempo
dovesse nascere un giorno una rosa
la dò alla donna che mi offrì il suo pianto
per ogni palpito del suo cuore
le rendo un petalo rosso d'amore
per ogni palpito del suo cuore
le rendo un petalo rosso d'amore

A te che fosti la più contesa
la cortigiana che non si dà a tutti
ed ora all'angolo di quella chiesa
offri le immagini ai belli ed ai brutti
lascio le note di questa canzone
canto il dolore della tua illusione
a te che sei per tirare avanti,
costretta a vendere Cristo e i santi

Quando la morte mi chiamerà
nessuno al mondo si accorgerà
che un uomo è morto senza parlare
senza sapere la verità
che un uomo è morto senza pregare
fuggendo il peso della pietà

Cari fratelli dell'altra sponda
cantammo in coro giù sulla terra
amammo in cento l'identica donna
partimmo in mille per la stessa guerra
questo ricordo non vi consoli
quando si muore, si muore soli
questo ricordo non vi consoli
quando si muore, si muore soli.

segunda-feira, julho 4

Evidências

É incrível como assistir a algumas horas de Monty Python (o seriado de tevê mesmo, o da década de 1970) pode fazer cambiar totalmente a sua percepção de mundo.

sexta-feira, julho 1

entrada: Áustria

(Extraído da Encyclopaedia Venarda)

Você, leitor que veio a este verbete em procura de alguma informação da Áustria, talvez tenha perdido seu tempo. Não, não me ofenda, nem feche o livro antes que lhe demos as devidas explicações. Em primeiro lugar, a Áustria não existe. Exatamente, não existe: trata-se de um penduricalho de Alemanha perdido, que deveria ter sido unificado junto a ela em 1871, mas o impediram o compromisso de Sadowa (1866) e a vaidade do Imperador austro-húngaro. Sendo então ovelha desgarrada, a então gerada Áustria (como unidade política, não como unidade nacional, a qual nunca existiu), errou pela Europa, principalmente depois do esfacelamento do Império Austro-Húngaro ao fim da I Guerra Mundial, quando parte dos habitantes da Marca Oeste quiseram optar pela união com a Alemanha (o que poderia ter sido o Anschluß com quase 18 anos de antecedência); fato que foi impedido pelos signatários de Versailles. Notas disso é o hino composto e usado como hino nacional na Áustria de 1920 a 1929, que começa com:

Deutsch-Österrich, du herrliches Land / wir lieben dich! / […] (vv. 1-2)

Ou seja, Áustria-alemã, tu, maravilhosa terra / nós te amámos / […]; era o sentimento de germanidade implícito, o pan-germanismo tardio; esse Áustria-alemã, pelos manuais, é lido como a diferenciação da Áustria de fala alemã, em oposição aos velhos territórios perdidos, de falas eslavas (Eslovênia, Caríntia, Sérvia) ou latinas (Trentino-Alto Adige ou Tirol do Sul). E as próprias definições de Áustria presentes ainda no hino, nos dizem mais alguma coisa:

[…] / […die Wasser zum Donaustrom] Tränken im Hochland Hirten und Lämmer, / treiben am Absturz Mühlen und Hämmer, / […] (vv. 5-6)

Ou em bom-português: [as águas do Danúbio] brindando nas terras altas aos pastores e aos cordeiros, / movendo as rodas dos moinhos e os martelos, […], ou seja uma visão bucólica que pode ser em qualquer lugar. Os eufemismos estranhos pelos quais é tratada a Áustria, como:

[…] / Einig auf ewig, Ostalpenlande / […] (v. 16)

Aqui, o verso refere-se às Terras Alpinas Orientais, para grande espanto geral, e um pouco mais abaixo:

[…] / Du Bergländerbund, unser Ostalpenbund, / […] (v. 20)

Tu, União [ou Federação] de Estados Monteses, nossa União Alpina Oriental. São eufemismos que remetem inclusive à época do Império Carolíngio, quando as terras d'Áustria era a marca oriental, ou seja, marca no sentido de fronteira, como no mesmo Império Carolíngio existia a Marca de Barcelona; a marca orientalis, depois germanizada para Östmark (marca do Leste, ou oriental), e depois transformada na terra oriental (Österreich), nome atual da região.
Baseado nessas evidências, é possível afirmar que a Áustria, como nação é inviável, tanto do ponto de vista histórico, quando do político e do lingüístico.