domingo, outubro 16

199. Zibaldino - língua e acentuação

«Soy partidário de las voces de la calle,
mas que del diccionario.»
(J. Manuel Serrat)

Atento. Não deixe que a televisão influencie excessivamente a sua linguagem. Um païs imenso como o nosso que tem uma única língua, é quase poético, lindo e ideal; mas a mídia tem tentado uma uniformização dos sotaques e acentos regionais. O dever de cada um é ser cioso com o seu acento regional, não descriminar ninguém por tal, ou tentar de impor o seu a outrem, trata-se somente de tentar resguardar um pouco da parca identidade regional. Sim, somos todos brasileiros mas não precisamos abrir mão daquilo que nos difere dos outros habitantes do païs. Digo então pela minha terra, a região de São Paulo: é afetação insuportável repor ditongos onde eles foram montongados, casos notórios: peixe, queijo, feixe, seixo, brasileiro. Se alguém nascido em São Paulo carrega consigo essa pronúncia, é afetação oriunda certamente da mídia.
Em compensação, pronúncias históricas ou diafásicas são inclusive, alvo de chacotas: caso dos grupos di e ti quando não-africados; ou do r vibrante no começo de palavras ou quando graficamente dobrado no interior das palavras, hoje substituïdo pela pronúncia extraterritorial, vira uma aspirada, o que para mim, é pronúncia de h do inglês.
O mesmo quanto à entonação característica, o popular falar cantado. É bom que abramos os olhos e os ouvidos, estão tentando tirar o pouco que nos resta e nos dá uma identidade coletiva lingüística. Também não se tratam de alterações gráficas, que passem a serem aceitas como norma regional: não, a língua é uma e os acentos regionais têm de ser aceitos. Embora, uma grafia regional, fiel aos fonemas locais não é interdita para uso literário. Algumas pronúncias populares generalizadas, como por exemplo o apagamento do r final dos infinitivos dos verbos ou a elisão da primeira sílaba do verbo estar, são contempladas pelo Sistema Ortográfico de 1943 (válido até a actualidade com algumas alterações em 1971). No item XIII Apóstrofo, artigo 44, segundo parágrafo, prevê-se a utilização do apóstrofo para «reproduzir certas pronúncias populares: ’tá, ’teve». Se é válido para o verbo ’tá, há-de ser válido para ’cê, por você, ou então para a afamada expressão pó’ deixá. O acento em pó’ justifica-se por tratar-se de monossílabo tônico. No caso da elisão dos finais dos infinitivos, sou partidário do acento: fazê, dizê, cantá, por fazer, dizer, cantar. O que não é facto novo e é até usado com certa freqüência, mas sempre muito estereotipado.
Crase, outro ponto interessante. No português normativo, a crase é basicamente a união da preposição a com o artigo a e alguns pronomes demonstrativos começados por a: à, àquele, àquela. Mas a crase é mais, é um fenômeno lingüístico, é a fusão de dois sons idênticos, ou afins, uma fusão, conseqüentemente é lícito (para uso literário, friso) o uso do acento grave em prà (quando indicar para a), prò (para o), e não marcando sílaba tônica, como em sòdade por saudade; lembro-me de ter visto essa grafia num dos painéis feitos para o lançamento do CD Cancioneiro da Imigração, de Anna Maria Kiefer que foi na Pinacoteca do Estado no ano passado).
Uma grafia especial para os verbos no pretérito, com uma acentuação dupla, uma marcando a tônica e outra indicando a supressão da nasalização: cantaram, pelo português padrão, a cantárô; o primeiro marca a tônica e o segundo, o circunflexo marca a fusão da vogal final com a marca nasal.
E os dois tipos de não: o átono e o tônico: merecem sim grafia especial, o átono pode ser grafado num. Geralmente o átono aparece quando acompanhado de verbo conjugado.

Aïnda em tempo: uma peça publicitária da Generalitat Valenciana para a defesa da língua valenciana e incentivo ao seu uso: en valencià, naturalment!

Real Confederação Venarda de Bolinha de gude: Reforma ortográfica, a questão da língua, língua brasileira, Giacomo Leopardi, Mário de Andrade, línguas espanholas, llibres en català, gang bang, plebiscito de 1992, carta magna, Luís Vaz de Camões, política lingüística.

4 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

pois é, é como eu estava te dizendo. o que eu gosto em você não é o humor refinado e mau, nem seus belos olhos azuis, mas a sua incrível capacidade de ser mais pedante do que eu :)

domingo, outubro 16, 2005 2:17:00 da tarde  
Blogger Orlando Tosetto Júnior disse...

Defendo o acento bananérico.

domingo, outubro 16, 2005 7:24:00 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Faça-me o favor, Alteza, de adicionar um enlace a meu humilde periódio virtual : inbarocco.blogspirit.com . Agradeço-lhe a gentileza.

domingo, outubro 16, 2005 10:20:00 da tarde  
Blogger Sérgio disse...

Dani,

Pois é, eu não tenho vergonha de sê-lo (rs). Fico agradecido pela menção.

Messer Tartufo,

Sentimos informar, mas tanto o pombalismo quanto o cristianismo estâo em baixa, se Deus fala castelhano somente, que se atualize pois Carlos V está jogando tranca com o Presidente Médici nas perenes flamas do báratro infernal.

Orlando,

Bem, aí é uma questão de estilística e pseudo-interlíngua; ou talvez um pseudo pinding (é assim que se escreve?)

Donato,

Está já adicionado e logo terá uma menção oficial.

Saudações a todos.

segunda-feira, outubro 17, 2005 11:32:00 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home