segunda-feira, outubro 3

Massa falida de um pseudo-tratado

Parte inicial de um tratado cujo projeto, além de inútil, naufragou.

De mediocritatis intra homines paulistanos

Proêmio: Io mi sto in cittade

Venho a vós, possíveis leitores, trazer-vos uma pequena coletânea do ser humano. Embora tenha eu fixado-me sobre a cidade de São Paulo, o conteúdo deste presente pretenso tratado, ou até, apropriando-me de Machiavelli, desse ghiribizzo, trata sobre facetas do comportamento humano. Não me venham os psicólogos e sociólogos moer-me a pauladas: uma porque se trata de descrição superficial, outra porque sinceramente desprezo-os.
A intenção caminha junto com os preceitos de Machiavelli – perdoem-me a falta de modéstia, creio que o compêndio responderá por si – de observar a realidade e não dar nenhum tipo de receituário comportamental ou fenomenológico; não direi, em hipótese alguma, preceitos ou indicarei ou preconizarei comportamentos, não tenho animus necandi nem venho com o fumus boni juris. Direi o que vejo.
Direi o que vejo, como é essa parcela da Humanidade, que a resume completamente, visto que todos os comportamentos humanos cá são encontrados. Imagino que qualquer um de vós dirá, «mas isso se vê em qualquer vilarejo, será então um espelho da condição humana»; mas eu vos respondo, que as grandes cidades são mais propícias a essas observações do tipo humano e sua caracterização, são os mesmos dos vilarejos de Província sim, mas na grande urbe, pode ser analisado o mesmo processo ou fato sob diversas origens; ao invés de observarmos um só indivíduo representante de tal ou qual fenômeno, podemos ver alguns casos e compará-los nas suas variantes, dar hipóteses diversas.
Afinal, a convivência urbana não pode ser considerada como externa ou antinatural ao ser humano, visto que completamos já quase nove milênios e meio desde a fundação de Jericó e de Çatal Hüyük, primeiros núcleos habitacionais dos quais se têm notícia e que, segundo pesquisas e estimativas, Çatal Hüyük chegou a contar com cerca de 10 mil habitantes. Desde então, a Civilização organizou-se a instituição citadina como fundamento; as Cidades-Estado gregas que talvez tenha sido a consolidação do sistema civilizatório urbano; Roma, uma cidade que se expandiu pela Europa Mediterrânea, deu seu nome a todo um império e fez a sua língua, língua dos pastores do Septimôntio, a língua de cidades distantes.
Apesar do Cardo e do Decúmano, nós, netos (ou filhos) dos Romanos, não tivemos muito da sua organização urbana em São Paulo; tendo sido fundada nossa cidade pelos Jesuítas e relegada, muito tempo ao papel tão-somente da catequese dos índios, sem quase alguma importância econômica, o traçado urbano estendeu-se ad libitum, de acordo com as necessidades; heranças coloniais. Uma cidade que, quando da explosão demográfica cresceu sem parâmetro algum e deu-nos esse actual estado de coisas.
Toda essa irregularidade demonstrar-se-á na particularidade dos tipos humanos e no viver civil dos paulistanos, tão particular e representativo, ao mesmo tempo, embora contraditório, da humana estirpe. Mostrar o ponto absurdo da mediocridade na qual o gênero humano está chafurdado, e; seguindo a linha de pensamento de Giambattista Vico, pode-se dizer que seus ciclos civilizatórios estão a cumprir-se: a idade dos deuses, a idade dos homens e o bestião. Dessa vez, o nosso desenvolvimento tecnológico, algo que nos se apresentava como a panacéia universal, é mal usada, e sendo mal usada, causa trouxe-nos a cisão do conhecimento (a especialização absurda e industrial), a massificação do consumo, a maior vilã contra a Humanidade, a mesma massificação que jogou a maioria do povo desta cidade – e porque não do mundo – na abissal futilidade, na voluntária ignorância, na credulidade absurda, ou nas ciências argentárias, tecnológicas ou ainda na pseudo-religião que afunda seus tentáculos santarrões pelas massas.
Esses são assuntos que pretendo desenvolver ao decorrer desse opúsculo ingrato; esperando então, que o ele seja-vos útil, ou ao menos elucidativo, vista a riqueza de aspectos sobre os quais ele pretende divagar.

3 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

ainda não consigo parar de rir do piano a diesel.

e você viu que o dito tinha rodinhas, né?
depois da formula fusca, formula truck e da formula trator, aguardem a abertura da temporada de formula piano em interlagos.

segunda-feira, outubro 03, 2005 3:03:00 da tarde  
Blogger Jeferson Ferreira disse...

no fim de sua vida, vc poderia organizar um compêndio de suas obras imaginárias, ou não realizadas.

segunda-feira, outubro 03, 2005 5:18:00 da tarde  
Blogger Sérgio disse...

Dani,

Sim, inclusive a imagem das rodas ficou na minha cabeça, porque eram dum dourado fosco tão bonito...

Jefferson,

Me ajuda?

terça-feira, outubro 04, 2005 11:59:00 da manhã  

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