terça-feira, outubro 4

O porquê do sim

Deixo por alguns instantes as contínuas blagues que têm orientado este blogue, por uma questão de relativa importância. O texto abaixo é uma miscelânea de conversas ao vivo e comentários nos blogues por aí.

Os debates têm se acalorado em torno da questão do referendo sobre o desarmamento. Encontrei textos sobre o assunto em alguns blogues e no do Orlando, martelei um pouco as minhas opiniões. Então, aproveito o ensejo e as publico aqui, porque sou a favor da aprovação do Estatuto do Desarmamento.
Os partidários do não estão usando argumentos extremamente clichezados: o direito à defesa é o mais usado. Na diatribe do blogue do Orlando, foi dito que os «bandidos» terïam tentão certeza plena que poderïam entrar em qualquer casa sem temer retaliações. E já não o fazem hoje? Uma arma na mão da vítima é sua própria sentença de morte; as pessoas em situações de pressão ficam apavoradas e fáceis de serem subjugadas pelos meliantes, eles conhecem as nossas reações básicas e se sonharem que você está pensando em sacar da arma, fuzilam-lhe.
É ingênuo pensar que uma arma possa defendê-lo. Recentemente, recebi umas peças publicitárias por correio eletrônico, inclusive sem identificação de quem as terïa feito, defendendo o porte de arma com motivos-chavão. Absolutamente revoltante.
Certa feita, Orlando me disse que um carro também mata gente e as pessoas tem habilitação: argumentei que são duas coisas absolutamente diversas, pois um carro pode sim matar, mas sua intenção, a intenção com a qual foi feito o objeto não é de matar, o carro anda, transporta. E a arma? Nas melhores das intenções, ela foi feita para ferir; ninguém compra armas com a intenção de ficar atirando em latas ou garrafas, a própria intenção do objeto (permitam-me essa categorização) é de ferir.
Acreditando-se que o referendo é populista, como já vi sendo tachado, ou dilapidação inútil do erário público é prova que o brasileiro aïnda é um povo mal-adaptado com a democracia, visto que em qualquer outro período da História do nosso païs, serïa posto e pronto. A questão é polêmica e é justo que seja submetida à consulta popular, como outros assuntos devem ser postos também.
Propala-se com galardões o simples direito de ter a arma. Pergunto: que direito é esse, que um exercendo, cerceia o do outro? Se são as pessoas e não as armas que matam as pessoas, conforme citação feita a partir de cartaz colado em uma loja de armamento americano, lembremos que os Estados-Unidos é o païs onde psicopatas (até então pacíficos) entram com metralhadoras dentro das suas salas de aula e executam os colegas. E nós não somos os Estados-Unidos.
É a lei do mais forte. Muitas brigas de trânsito, discussões de boteco e rixas amorosas que poderïam ter acabado no máximo nuns tabefes, terminaram em tragédia; o homem é um animal que pensa e remói, age por impulso e sangue quente, usa a arma, mas depois de morto o adversário, o pranto não o trará de volta. A morte é irreversível, a lei sim. Podemos escolher.
E as crianças que morrem em casa, por acidentes domésticos? Embora essa Frente Parlamentar do Direito à Defesa não diga nada sobre, o índice desses acidentes no Brasil é muito alto, e quase sempre fatal.
Fico tranqüilo, pois tenho quase certeza que a aprovação passará. Pela quarta vez, serei mesário, e pela primeira vez, irei com a consciência que estarei sim prestando um serviço para o meu païs e para o meu povo, somos nós que diremos sim ou não, será a vox populi, vox Dei. Chegamos num ponto onde manter a legislação como está é uma estupidez e mudá-la também é; estupidez por estupidez, fico com a mais coerente. Os descontentes podem mudar-se para a Argentina ao término do referendo.

Agora, espero as vossas pauladas.

Pro-Juventute Venarda: munição, parlamentares corruptos, bancada da bala, lobby da indústria de armamentos, violência doméstica, violência urbana.

6 Comentários:

Blogger Jeferson Ferreira disse...

Perfeito. Exato. Desta vez, também vou com orgulho.


PS: Vc sabia que as chances de morrer em um assalto aumentam 180% se vc estiver armado?

terça-feira, outubro 04, 2005 11:38:00 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

eu só teria uma arma se fosse da louis vuitton.

enfim. esse é um ponto em que eu nunca tive nem dúvida. meu pai não deixava nem que a gente tivesse arma de brinquedo, fui criada abominando arma de fogo desde pequena. conheci pessoas que morreram por suas próprias armas, e eu não estou falando só de suicídio.


o cara, seja bandido ou "cidadão de bem", se sente muito macho com uma arma na mão, um negócio poderoso, fálico. arma é coisa pra quem tem pinto pequeno.

terça-feira, outubro 04, 2005 1:20:00 da tarde  
Blogger Sérgio disse...

Jeferson,

Sim, eu sabia.

Dani,

Também acho. Arma é coisa de botequeiro impotente.
Na minha casa também, somos todos, desde sempre anti-belicistas. Lembra-me que meu avô tinha uma garrucha, que meu tio transformou num cubo de metal de tantas marteladas depois da morte do patriarca.

Messer Tartufo,

Eu não acho inútil, mas acho que outros assuntos além desse, e até mais importantes, fossem também postos em referendo.
O grande problema do nosso païs é que o eleitorado é fàcilmente manipulado; aí as coisas podem começar a ficar perigosas.

quarta-feira, outubro 05, 2005 9:41:00 da manhã  
Blogger Camila Rodrigues disse...

Concordo muito com você, príncipe, acho mesmo que o porte de armas dá uma falsa ilusão de poder e, em última estância, pode vir a ser perigosa, tipo política do pão e circo ( eu deixo você brincar com o revolvinho e você me deixa em paz!). Acho, como você, que existem coisa smuito mais urgentes para serem tema do referendo. Certamente, não era sobre a posse de armas que o Walter Benjamin falava quando dizia que todos deveriam ter o direito legítimo de atuarem como sujeitos sociais, eu penso que é para evitar que a população se dê conta disso que essa "discussão" é imposta na mídia e que veículos como a Revista Veja (náusea)colocam-se muito veementementceawbe pelo Não.

quarta-feira, outubro 05, 2005 10:58:00 da manhã  
Blogger Jeferson Ferreira disse...

Não é inútil, pois democracia um povo não nasce sabendo, aprende. Um referendo como esse é ótimo como exercício. Há de haver outros, também muito necessários, como o do aborto, por exemplo. Há limites para o ceticismo.

quarta-feira, outubro 05, 2005 11:18:00 da manhã  
Blogger flogisto_calavera disse...

mas pouco importa se o referendo é inútil ou útil. ele vai acontecer e ponto. é uma chance para mudança sim. poderá não ser uma mudança fundamental, mudança de mentalidade, mas será uma mudança. é sim uma oportunidade para reduzir o número de pessoas armadas, já é um começo - talvez um bom começo se considerarmos a situação geral dessa república de bananas.

quinta-feira, outubro 06, 2005 12:17:00 da manhã  

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