O texto que se segue foi extraído dos Guardanapos literários, capítulo da obra Le ricche ore del Conte della Venardia.
Divino guardanapo
Então, arrependeu-se o Senhor de haver feito o homem sobre a terra, e pesou-lhe em seu coração.
(Gênesis, 6.6)
Um guardanapo do tamanho do mundo. E Deus limpou a Terra do Cosmos. Passou-o como quem limpa uma vidraça, cancelou a existência dos homens sem que se apercebessem. Grandes e pequenos, ilustres e medíocres. Sem desespero, sem padre-nosso, sem extrema-unção. Deus execra essas baboseiras.
Durante séculos, patriotas estúpidos e demagogos usaram de Deus para justificar e oficializar suas ações. Deus, Pátria e Rei. Pediam-lhe que protegesse os reis, pelos hinos. Estúpidos. Não sabem que Deus gasta sua eternidade a jogar tranca, com a excelsa vantagem de poder criar um jogador diverso a cada partida.
Para Deus, os únicos reis que lhe importam são os do xadrez, jogo que divide sua preferência com a tranca.
E tanto se importa igualmente com os que obtêm o cetro pelo voto. No xadrez divino, as peças não elegem o rei; nem a peças eletivas.
Quando foi morto Umberto I, Deus perguntou se o fato poderia afetar o andamento da sua partida de xadrez, justo no momento que a mão de argila adversária (sempre a consueta argila!) ágil sobre o tabuleiro, sentou-Lhe um xeque-mate. Irritou-se Deus com isso e com sua onipotência transformou seu oponente em um vaso; afinal, era tudo a mesma argila.
Na Terra, evocava-se o Seu nome à exaustão: «que Deus lhe pague!», «pel’amor de Deus». Seu nome, que segundo certos escritos (que Deus também não sabia bem a que serviam), o nome do Onisciente não deveria ser dito em vão. Escritos feitos, escritos desobedecidos. Dizia-se seu nome tantas vezes quantos eram os grãos de areia no Saara. Mas isso não se Lhe importava, era muito melhor tirar um cochilo; poderia dormir toda a eternidade.
Certo dia, acavalou os óculos sobre o nariz e leu todos os jornais e todos os livros escritos. «Até que são espertos!», riu-se amarelo. Acabada a leitura, decidiu o Onipotente não tirar mais cochilos tão longos; já que somente tinha deixado Noé e sua esposa sobre a Terra (ah! já haviam aprontado muito aqueles outros dois primeiros, Adão e Eva). Acordado, viu o estrago que os filhos do homem haviam feito ao seu belo planeta.
Mas não se irritou: nada que um guardanapo não resolva. No pior dos casos, um paninho com veja.
Divino guardanapo
Então, arrependeu-se o Senhor de haver feito o homem sobre a terra, e pesou-lhe em seu coração.
(Gênesis, 6.6)
Um guardanapo do tamanho do mundo. E Deus limpou a Terra do Cosmos. Passou-o como quem limpa uma vidraça, cancelou a existência dos homens sem que se apercebessem. Grandes e pequenos, ilustres e medíocres. Sem desespero, sem padre-nosso, sem extrema-unção. Deus execra essas baboseiras.
Durante séculos, patriotas estúpidos e demagogos usaram de Deus para justificar e oficializar suas ações. Deus, Pátria e Rei. Pediam-lhe que protegesse os reis, pelos hinos. Estúpidos. Não sabem que Deus gasta sua eternidade a jogar tranca, com a excelsa vantagem de poder criar um jogador diverso a cada partida.
Para Deus, os únicos reis que lhe importam são os do xadrez, jogo que divide sua preferência com a tranca.
E tanto se importa igualmente com os que obtêm o cetro pelo voto. No xadrez divino, as peças não elegem o rei; nem a peças eletivas.
Quando foi morto Umberto I, Deus perguntou se o fato poderia afetar o andamento da sua partida de xadrez, justo no momento que a mão de argila adversária (sempre a consueta argila!) ágil sobre o tabuleiro, sentou-Lhe um xeque-mate. Irritou-se Deus com isso e com sua onipotência transformou seu oponente em um vaso; afinal, era tudo a mesma argila.
Na Terra, evocava-se o Seu nome à exaustão: «que Deus lhe pague!», «pel’amor de Deus». Seu nome, que segundo certos escritos (que Deus também não sabia bem a que serviam), o nome do Onisciente não deveria ser dito em vão. Escritos feitos, escritos desobedecidos. Dizia-se seu nome tantas vezes quantos eram os grãos de areia no Saara. Mas isso não se Lhe importava, era muito melhor tirar um cochilo; poderia dormir toda a eternidade.
Certo dia, acavalou os óculos sobre o nariz e leu todos os jornais e todos os livros escritos. «Até que são espertos!», riu-se amarelo. Acabada a leitura, decidiu o Onipotente não tirar mais cochilos tão longos; já que somente tinha deixado Noé e sua esposa sobre a Terra (ah! já haviam aprontado muito aqueles outros dois primeiros, Adão e Eva). Acordado, viu o estrago que os filhos do homem haviam feito ao seu belo planeta.
Mas não se irritou: nada que um guardanapo não resolva. No pior dos casos, um paninho com veja.
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