l’undici settembre
Passou-se o sábado e simplesmente esqueci-me da memorável data, o 11 de setembro. Morreu gente que nada tinha a ver com o peixe? Sim, morreu, infelizmente. Mas que foi interessante ver aquilo foi. Creio que nós, latinos tropicais temos a contar somente nossas vivências diversas de quando soubemos da notícia, e como vivente à época, tenho cá também o meu recordo.
11 setembro 2001
(fará mais sentido se o leitor procurar no Kazaa ou algum outro congênere a música «Girotondo» de Fabrizio de Andrè; sei que já encheu as paciências as recorrências a De André, mas nada é mais aproriado... é donde são os trechos entre chaves)
[ se verrà la guerra, marcondirond’ero... chi ci aiuterà?]
Numa sala comprida, três fileiras de mesas, divididas em baias por chapas de eucatex (madito Maluf! até aqui entra a droga do eucatex!); em cada uma delas um computador e um fulano diante dele, trabalhando com complicados desenhos de plantas de telecomunicações - um trabalho assaz maçante, vos digo. Na sala, somente o chato tec-tec dos teclados, caras emburradas. Fora, um raro sol de setembro dava as caras, aumentando a raiva dentro, fazendo o gado sonhar com praias e veraneios.
Eu, parte do gado também, ruminava na minha baia, com o meu inseparável rádio portátil na orelha - com fones, naturalmente. Escutava eu uma dessas emissoras de notícias 24 horas por dia, não lembro se era a CBN ou a Eldorado.
[l’aeroplano vola, marcondirond’ero... la bomba è già caduta, chi la prenderà?]
De improviso, anunciou-se, cortando um comercial, que um avião havia atingido uma das torres do World Trade Center. «Um daqueles aviãozecos... jatinhos... de algum empresário... por certo o piloto era bêbado», pensei cos meus botões. Algunhoutro ouvia também o noticiário.
- Berne! (esse era o meu apelido no antro) ’Cê viu? Bateu um avião no Trade Center!
- Pilotos bêbados... empresários não deveriam ter jatinhos...
- Não, parece que foi um avião de passageiros.
- Sério?
Começou a ficar preocupante.
- Perece que foi um acidente feio...
O rapaz voltou à sua mesa. Mais alguns minutos, outro avião choca-se com a outra torre do complexo, o rádio anuncia.
- Outro avião. É guerra! - veio o beligerante desenhista CAD.
- Não, não deve ser... acidentes ocorrem... - poderei.
- Louco! Minutos depois? Impossível!
[siam grandi o siam piccini, li distruggerà, siam furbi o siam cretini, li fulminerà]
Mais alguns minutos vieram o choque doutro jato comercial contra o Pentágono e outro que fora alvejado e caiu num deserto. Parece que tinha como alvo a Casa Branca. A essa altura, o escritório todo era em polvorosa. Nem a nossa chefe pensava mais, todos comentavam dos ocorridos. Ligou-se um rádio grande que havia, não precisei mais usar os fones.
Eu fazia planos absurdos.
- Hum... decerto essa merda toda vai chegar aqui também... precisamos plantar... faltarão gêneros essenciais! E as bombas, e as bombas?
[la terra è tutta nostra, marcondirond’ero... giocherem a far la guerra, marcondirond’a]
E assim, no «giocherem a far la guerra», enquanto eu descia a rampa da estação de Artur Alvim, já quase noite e com um céu nublado e dum azul quase cobalto, escutava pelo rádio que começaram os bombardeios a Kabul.
0 Comentários:
Enviar um comentário
<< Home