Do quinto tomo dum diário que não tem fim
Estudo em azul
Agora tentarei desobstruir um pouco o fígado; faz tempo que não publico nada do gênero. Primeiro, fazendo juz à minha mediterraneidade, não posso tratá-la por Ievgénia (é, é sobre ela mais uma vez), então, apropriando-me da pena do maestro Verdi, tratá-la-ei por Aïda; por causa da ópera e daquela maravilhosa ária que tenho vontades de cantar («Se quel guerrer io fosse! / Se il mio sogno se averasse...).
Houve um tempo, não muito distante; cerca de um ano recuando no tempo da presente data, no qual eu vivia bem, em paz comigo. Havia me livrado duns pulhas que infernizavam a minha viada há algum tempo já, estava estudando. Claro que havia problemas, mas são aqueles de sempre; vivia a minha vidinha pequenina. Estava eu então em plena desocupação, angustiado por isso; afinal, qual casa tem bom ambiente para estudar? Acordava tarde e à tarde ia para a Faculdade.
Junho de 2003: uma aula de Literatura. Sentei-me numa cadeira e fiquei aguardando a entrada do professor, como toda aula que entrava; até que ele chegou e disse:
- Olá, meninos... vamos fazer o seguinte, hoje; façam um cerchio, perdão, um círculo com as cadeiras, vamos fazer uma roda.
Fizemos um círculo e a aula começou. O professor fala, fala; até que, perdido em divagações (o que é normalíssimo da minha parte) até que percebi. Nossos olhares se encontraram... certamente foi um acidente. Mais alguns minutos, outro esbarrão de olhos. Então perguntei a mim: «mas quem é? não me parece estranha...», visto qu’eu demorei um bom tempo a começar a falar com a turma da sala. À pergunta me acorreram uns fragmentos de imagens do ano anterior; sim, sim... ela fez algumas disciplinas comigo... na verdade só uma; e desde aquela época, dessa disciplina perdida num primeiro ano de Faculdade, ela tornara-se uma espécie de ente que abitava a densa floresta do meu subconsciente... o seu semblante deu forma a várias aparições de sonhos e eu começava a cismar com as repetidas ocorrências desses sonhos habitadas sempre pela mesma moça; só que em diversas ocasiões: de enfermeira à princesa num baile de palácio. Tenho poucos sonhos, como até hoje, mas durante um tempo, ela os habitou com insistencia.
Quando reconheci o rosto, naquela aula de Literatura, tive um frêmito que fez com que a cadeira se arrastasse sobre o chão. Deus! Devo estar a ficar louco! Olhei melhor e lembrei da ocasião terrena da qual reconhecia eu aquele rosto; e para meu alívio veio-me a lembrança da aula já um ano lonjana. Acalmei-me mas senti-me o rosto quente (culpa rubet vultus meus, não é, maestro?). Esbarramos mais uma vez o olhar, pela terceira.
Meu nariz começou a arder e os olhos me lacrimejaram; estava a vir um daqueles espirros terríveis. Veio. Quando me recompus, ouvi numa voz quase sobrenatural de tão suave: «saúde».
Foi ela; ela me disse saúde!
E foi desde dia em diante que minha paz foi-se embora e me consumo, me consumo... ora me sinto nos elíseos; e ora no mais profundo dos infernos pelas minhas penas (praeces meae, non sunt dignae...).
O azul eu explico depois.
Agora tentarei desobstruir um pouco o fígado; faz tempo que não publico nada do gênero. Primeiro, fazendo juz à minha mediterraneidade, não posso tratá-la por Ievgénia (é, é sobre ela mais uma vez), então, apropriando-me da pena do maestro Verdi, tratá-la-ei por Aïda; por causa da ópera e daquela maravilhosa ária que tenho vontades de cantar («Se quel guerrer io fosse! / Se il mio sogno se averasse...).
Houve um tempo, não muito distante; cerca de um ano recuando no tempo da presente data, no qual eu vivia bem, em paz comigo. Havia me livrado duns pulhas que infernizavam a minha viada há algum tempo já, estava estudando. Claro que havia problemas, mas são aqueles de sempre; vivia a minha vidinha pequenina. Estava eu então em plena desocupação, angustiado por isso; afinal, qual casa tem bom ambiente para estudar? Acordava tarde e à tarde ia para a Faculdade.
Junho de 2003: uma aula de Literatura. Sentei-me numa cadeira e fiquei aguardando a entrada do professor, como toda aula que entrava; até que ele chegou e disse:
- Olá, meninos... vamos fazer o seguinte, hoje; façam um cerchio, perdão, um círculo com as cadeiras, vamos fazer uma roda.
Fizemos um círculo e a aula começou. O professor fala, fala; até que, perdido em divagações (o que é normalíssimo da minha parte) até que percebi. Nossos olhares se encontraram... certamente foi um acidente. Mais alguns minutos, outro esbarrão de olhos. Então perguntei a mim: «mas quem é? não me parece estranha...», visto qu’eu demorei um bom tempo a começar a falar com a turma da sala. À pergunta me acorreram uns fragmentos de imagens do ano anterior; sim, sim... ela fez algumas disciplinas comigo... na verdade só uma; e desde aquela época, dessa disciplina perdida num primeiro ano de Faculdade, ela tornara-se uma espécie de ente que abitava a densa floresta do meu subconsciente... o seu semblante deu forma a várias aparições de sonhos e eu começava a cismar com as repetidas ocorrências desses sonhos habitadas sempre pela mesma moça; só que em diversas ocasiões: de enfermeira à princesa num baile de palácio. Tenho poucos sonhos, como até hoje, mas durante um tempo, ela os habitou com insistencia.
Quando reconheci o rosto, naquela aula de Literatura, tive um frêmito que fez com que a cadeira se arrastasse sobre o chão. Deus! Devo estar a ficar louco! Olhei melhor e lembrei da ocasião terrena da qual reconhecia eu aquele rosto; e para meu alívio veio-me a lembrança da aula já um ano lonjana. Acalmei-me mas senti-me o rosto quente (culpa rubet vultus meus, não é, maestro?). Esbarramos mais uma vez o olhar, pela terceira.
Meu nariz começou a arder e os olhos me lacrimejaram; estava a vir um daqueles espirros terríveis. Veio. Quando me recompus, ouvi numa voz quase sobrenatural de tão suave: «saúde».
Foi ela; ela me disse saúde!
E foi desde dia em diante que minha paz foi-se embora e me consumo, me consumo... ora me sinto nos elíseos; e ora no mais profundo dos infernos pelas minhas penas (praeces meae, non sunt dignae...).
O azul eu explico depois.
5 Comentários:
azul é uma cor linda, bom gosto ela tem.
Cá sou eu, do Inverso... Vou atualizar seu endereço de blog no meu antro de idéias inversas, foi-se mesmo para sempre o mal-estar? Sobre o que o li, não entendi tão bem, mas suspeito daquele jogo de fonemas... É ela, talvez ou com toda certeza? Sei o que vc sente, e não sinto nem pena nem inveja. É mesmo um "descontentamento descontente", não é ? Beijo, boa semana.
Sergito dessa vez não cometerei nenhuma indiscrição. Sua musa que perdoe-me, mas não esqueça da dedicatória no trabalho. A minha será "Sérgio Mendes", ok?
beijo grande.
Será que o Blue tem a ver com ingleses e o sentimento de desesperança, tristeza, quase depressão? Por causa de um "sáude" a saúde mental foi-se embora? Que tal partir pra uma de holândes voador, já que agora se foi o mal-estar? Eu, só permaneço no amarelo, de não saber mais o que se passa...abraço!
que ódio sinto por ela, que voltou marcada, e que me marcou também.
ódio é o amor ou vice-versa
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