Minuto solene
Finalmente encerrei minha conta no Banco do Estado de São Paulo, vulgo Banespa; aproveitei que já que havia de resolver umas porcarias mal-feitas pela burocracia alheia e dei cabo da conta. Não sem esforço, nossignore!
Entrei na agência acompanhado de André, passei os vinténs que sobraram para uma outra conta e sentei-me no atendimento: «Boa-tarde, quero fechar a minha conta.». A atendente fez uma cara como se houvesse visto um elefante diante de si. «Mas porque?». «A conta não me é mais útil... recebia a bolsa de um estágio; agora mudei de emprego e a conta não me serve mais...», rebati enérgico imaginando que o argumento seria suficiente para a rendição da bancária.
«Mas é uma conta universidade?», perguntou a gentil abelhuda. «Não faço a menor idéia...», respondi num tum totalmente menefreguista. A bisbilhoteira consultou o seu terminal eletrônico: «Ah, sim... é uma conta universidade... façamos o seguinte, mantemos a conta e reduzimos a tarifa a um e sessenta...».
«Não», cortei ríspido, «não uso mais a conta e quero fechá-la...»
«Mas se você receber uma outra bolsa? Vai ter de abrir a conta de novo...»
«Isso é o de menos.»
«Terá de trazer todos os documentos de novo...»
«Bem sei.» começava eu a perder a paciência. «O futuro a Deus pertence, minha cara...».
«Vamos fazer o seguinte... porque você não abre uma poupança e...» enquanto ela falava abanei a cabeça como quem repreende uma criança: «Não!». «Você ganha essa nécessaire... pode dá-la à sua namorada... tem namorada?»
Então eu me enfezei. O que tem a ver uma coisa com a outra? Uma instituição financeira abjeta e execrável com os meus pensamentos e sentidos privados? Lembrei-me de Aída, fiquei nitidamente transtornado e a menção da palavra namorada naquele instante ofendeu-me profundamente. Tive vontade de dar uma de louco: «Ou você fecha essa joça de conta ou eu explodo esse banco detestável; explodindo esse antro, na melhor das hipóteses, vocês ganham uma sucursal na lua!», mas o espítito diplomático e pacífico habitante do meu corpo voltou rapidamente ao comando: «Não, não quero! Quero apenas fechar a bendita da conta... veja bem: eu tenho três... isso mesmo, três contas bancárias» indiquei três com os dedos «e sou um só e ganho um só salário...» indiquei com um dedo em riste, «é pouco salário para muita conta! E não, não tenho namorada!». Provavelmente a essa altura eu já me encontrava escarlate pelo esforço sobre-humano com que impostei a voz e o tom raivoso que usei, principalmente na última frase.
Depois de alguns segundos de quase-total silêncio, onde se ouviam somente farfalhar lonjano de papéis, um rumorejo baixo de conversa e os apitos eletrônicos dos caixas para chamar as pessoas da fila, a moça suspirou profundamente: «Já que você quer assim...» e tirou da gaveta um termo de encerramento; assinei e foi depositar vinte-e-oito centavos que ficaram faltando. Convém dizer que o diálogo aqui retratado foi eximiamente resumido; o esforço daquele que vos escreve foi dizer não, não, não peremptoriamente durante quase quarenta minutos.
Conta encerrada. No dia seguinte, hoje, pus os dois talões de cheque da extinta conta dentro duma panela e os incinerei. Nunca imaginei que míseros dois talões pudessem fazer tanta fumaça e empestar uma cozinha em segundos. As cinzas, solenemente as aspergi pelo jardim, com larga mão.
O que é belo e instrutivo; como diria Guareschi.
Aviso
Por favor; mesmo que não seja possível assinar sem estar cadastrado, é possível deixar o nome no corpo da mensagem, por tanto, procedei assim. Grato.
Finalmente encerrei minha conta no Banco do Estado de São Paulo, vulgo Banespa; aproveitei que já que havia de resolver umas porcarias mal-feitas pela burocracia alheia e dei cabo da conta. Não sem esforço, nossignore!
Entrei na agência acompanhado de André, passei os vinténs que sobraram para uma outra conta e sentei-me no atendimento: «Boa-tarde, quero fechar a minha conta.». A atendente fez uma cara como se houvesse visto um elefante diante de si. «Mas porque?». «A conta não me é mais útil... recebia a bolsa de um estágio; agora mudei de emprego e a conta não me serve mais...», rebati enérgico imaginando que o argumento seria suficiente para a rendição da bancária.
«Mas é uma conta universidade?», perguntou a gentil abelhuda. «Não faço a menor idéia...», respondi num tum totalmente menefreguista. A bisbilhoteira consultou o seu terminal eletrônico: «Ah, sim... é uma conta universidade... façamos o seguinte, mantemos a conta e reduzimos a tarifa a um e sessenta...».
«Não», cortei ríspido, «não uso mais a conta e quero fechá-la...»
«Mas se você receber uma outra bolsa? Vai ter de abrir a conta de novo...»
«Isso é o de menos.»
«Terá de trazer todos os documentos de novo...»
«Bem sei.» começava eu a perder a paciência. «O futuro a Deus pertence, minha cara...».
«Vamos fazer o seguinte... porque você não abre uma poupança e...» enquanto ela falava abanei a cabeça como quem repreende uma criança: «Não!». «Você ganha essa nécessaire... pode dá-la à sua namorada... tem namorada?»
Então eu me enfezei. O que tem a ver uma coisa com a outra? Uma instituição financeira abjeta e execrável com os meus pensamentos e sentidos privados? Lembrei-me de Aída, fiquei nitidamente transtornado e a menção da palavra namorada naquele instante ofendeu-me profundamente. Tive vontade de dar uma de louco: «Ou você fecha essa joça de conta ou eu explodo esse banco detestável; explodindo esse antro, na melhor das hipóteses, vocês ganham uma sucursal na lua!», mas o espítito diplomático e pacífico habitante do meu corpo voltou rapidamente ao comando: «Não, não quero! Quero apenas fechar a bendita da conta... veja bem: eu tenho três... isso mesmo, três contas bancárias» indiquei três com os dedos «e sou um só e ganho um só salário...» indiquei com um dedo em riste, «é pouco salário para muita conta! E não, não tenho namorada!». Provavelmente a essa altura eu já me encontrava escarlate pelo esforço sobre-humano com que impostei a voz e o tom raivoso que usei, principalmente na última frase.
Depois de alguns segundos de quase-total silêncio, onde se ouviam somente farfalhar lonjano de papéis, um rumorejo baixo de conversa e os apitos eletrônicos dos caixas para chamar as pessoas da fila, a moça suspirou profundamente: «Já que você quer assim...» e tirou da gaveta um termo de encerramento; assinei e foi depositar vinte-e-oito centavos que ficaram faltando. Convém dizer que o diálogo aqui retratado foi eximiamente resumido; o esforço daquele que vos escreve foi dizer não, não, não peremptoriamente durante quase quarenta minutos.
Conta encerrada. No dia seguinte, hoje, pus os dois talões de cheque da extinta conta dentro duma panela e os incinerei. Nunca imaginei que míseros dois talões pudessem fazer tanta fumaça e empestar uma cozinha em segundos. As cinzas, solenemente as aspergi pelo jardim, com larga mão.
O que é belo e instrutivo; como diria Guareschi.
Aviso
Por favor; mesmo que não seja possível assinar sem estar cadastrado, é possível deixar o nome no corpo da mensagem, por tanto, procedei assim. Grato.
7 Comentários:
é incrivelmente irritante o modo como "essa gente" se sente conhecedora das suas necessidades... constantemente fico a me perguntar, se nem eu sei sempre o que eu quero pra mim, como voce que não me conhece acha que sabe?
Agora tente cancelar um dos seus cartões de crédito. Ou sua TV a cabo. Eu fiz isso e fiquei meses com TV a cabo de graça. Ai, esse mundo é uma píada...
Ute
Visitai, ó Conde - apreciar-se-lhe-á o obséquio - o
http://tutameia.zip.net
é lá que, desde hoje, se oferecem à chacota dos passantes meus comentários inúteis sobre as mais diversas banalidades.
Abração.
Érico.
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
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É véio, talvez a moça falou da sua namorada pra jogar um verde. Se você tivesse pensado nisso, talvez estivesse com uma bancária como você no dia de hoje, já pensou?
Miguelson
Meu Deus... Como você é especial, Sérgio! Só você não enxerga isso!!! Muitas, na faculdade, já perceberam que você é uma pessoa maravilhosa!! Lembre-se sempre disso!!
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