314. Defuntos do século XX
Pan-eslavismo
O plebiscito do último domingo em Montenegro, que selou o fado de Sérvia e Montenegro (que nome de país mais esdrúxulo!) foi a pá de cal no já há muito morto pan-eslavismo. Lembra-me que a última vez que vi tal palavra pelos meios de comunicação foi pelos idos de 1992 ou 1993, durante a deflagração da Guerra Civil Iugoslava. Não me deixa mentir a copiosa hemeroteca que eu juntava naqueles anos. O último resquício do que fora o outrora Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos – outro nome esdrúxulo e longo, e vinha até impresso nos selos – e posteriormente, Iugoslávia, dará adeus ao mundo em breve.
O próprio nome Iugoslávia – que soa muito melhor do que «Sérvia e Montenegro» - é oriundo das forjas pan-eslávicas: são os eslavos do sul (jug: sul em servo-croata). O pan-eslavismo em si, não era uma idéia das piores: preconizava a união dos povos eslavos – tchecos, eslovacos, poloneses, sérvios, croatas, eslovenos, russos, ucranianos e tantos outros – sob uma união política; uns queriam que fosse uma união sob o cetro do Czar de Todas as Rússias (inclusive o próprio Czar, o que lhe parecia muito conveniente), outros, queriam uma república fraternal. Distensões relacionadas com o pan-eslavismo acabaram por provocar a Primeira Guerra Mundial: a Sérvia estava sob domínio austro-húngaro e com base em idéias pan-eslávicas, os movimentos pró-independência tinham todos por base a ideologia pan-eslávica, inclusive a Sociedade (ou Irmandade, não me lembra bem agora) Mão Negra, de onde saiu Gravrilo Princip, o assassino de Francisco Fernando, arquiduque austríaco. As pretensões sérvias tinham um forte apoio: a Rússia imperial; o Governo de Viena interviu militarmente na Sérvia e provocou a declaração de guerra por parte da Rússia. Bateram-se de frente com outro agora defunto: o pan-germanismo, e eis o Império Alemão na guerra também.
A Primeira Guerra demonstrou a falência da idéia; ficou somente como embasamento teórico. Tanto que nações surgidas no pós-guerra, pelo esfacelamento dos impérios centrais, como a própria Iugoslávia e a Polônia, adotaram como hino nacional o «hino» do movimento, com letras diversas, mas a mesma música (e assim o é até hoje, é só ouvir os dois hinos).
No caso iugoslavo, é incrível que dois povos parecidos, misturados entre si, se odeiem tanto; foi a vontade de preponderância da Sérvia que condenou qualquer projeto de união. Na época imediatamente depois da queda do Império Austro-Húngaro, a Sérvia desempenhou papel preponderante na união e formação do novo reino, conseqüentemente, instalou-se uma Grande Sérvia, o que, evidentemente causou remordimentos entre as outras nacionalidades do reino. Durante a Segunda Guerra, os alemães fizeram a primeira dissolução da Iugoslávia e instalaram um estado-títere na Croácia (o seu chefe, Ante Pavelic, foi inclusive recebido pelo então Sumo Pontífice Pio XII). Os croatas da Ustase instalaram um regime de terror e fizeram os sérvios usarem uma braçadeira (como as dos judeus alemães), se não me falha a memória, bordada emazul com uma letra «P» (abreviatura de algum termo depreciador).
Nota adicional: até hoje, a União Européia não reconhece a República da Macedônia com o nome que lhe é de direito, por oposição da Grécia. Segundo lido alguma vez em algum jornal, a Grécia tem receio que a República da Macedônia acabe tendo influência sobre movimentos separatistas da Macedônia grega. A forma oficial da Macedônia para a UE e para a ONU é FYROM (Former Yugoslav Republic of Macedonia; Antiga República Iugoslava da Macedonia); o governo de Atenas sugeriu à Macedônia que adotasse o nome de República de Skopje, nome da capital macedônia.
Oj, svjeta majska zoro (Ó, clara alvorada de maio), hino montenegrino. Letra.
2 Comentários:
hum... depois vc reclama do meu inglês.
Ué, você não leu os jornais, por acaso?
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