309. Paúra
Sim, é um italianismo cujo significado até então era somente uma definição de dicionário, equivalente ao límpido português medo. A imagem de ônibus incendiados e vidros quebrados e aços retorcidos por disparos, dá paúra; todas as preocupações quotidianas dão espaço à incerteza angusta e ao vazio de futuro que é o medo. Senti tudo isso ouvindo a Polícia a correr pelas ruas desertas o o facho do helicóptero iluminando a fachada dos prédios. Agora os paulistas têm um facto a mais para se orgulhar: 15 de maio de 2006, a Kristallnacht paulista. E se paura fa 90, segunda-feira, foi a 180.
5 Comentários:
você já deve ter topado com alguém falando que "não tinha razão nenhuma pra pânico", que "o alvo era a polícia, não a gente", que "a gente fez exatamente o que os bandidos queriam", etc, etc, etc.
eu quero que essa gente se dane. parabéns ao pcc, eles fizeram um excelente trabalho ao provocar o pânico. mas também não foi sem ajuda da polícia paulista, com seus helicópteros voando baixo, parando o trânsito e revistando civis, da secretaria de segurança pública e seu "excelente" domínio de estratégia e inteligência, e do senhor governador, recusando ajuda externa.
eu fiquei apavorada e vou continuar no cagaço se acontecer de novo. antes covarde e viva.
pois é querido amigo. pior é ouvir das pessoas que não estava acontecendo nada, que era tudo bobagem.
É Sérgio, o negócio foi feio, mas como a Júlia havia comentado comigo no dia, isso era algo bastante previsível. De qualquer forma, uma hora a bomba iria estourar. Só fiquei um pouco espantado (e irritado, apesar de compreender)com a histeria coletiva que acometeu as pessoas. Tinha gente tendo crise de choro nos corredores da Universidade às 14h00. Outra coisa que me deixou meio bravo foi a postura da Universidade. Não acho que ela devia fechar as portas. Acho que, pelo contrário, deveria abri-las para discutir toda essa situação, já que a sociedade civil não o fez de maneira coerente. Acho que devemos lembrar que nessa história fica difícil saber quem são os algozes e quem são as vítimas. Óbvio que líderes do PCC não são modelos de seres humanos, mas para eles se tornarem o que são hoje, nós (sim, NÓS - e não se trata de um plural majestático) tivemos que "fechar os olhos", negligenciar ou fazer vistas grossas à toda essa exclusão em nosso país.
Enfim, nada mais do que minhas angústias...
Medo dói.
Apoiado, Cícero... Com certeza uma hora iria acontecer... Mas São Paulo nunca quis ver isso tudo... Sempre olhou para o Rio e criticou... "Lá é que o crime organiado é real, aqui não é tanto". Esse era o discurso.
Falta uma postura da Universidade, dos professores (uma professora deu a aula toda e nem tocou no assunto, como se nada tivesse acontecido... acredita?) e nossa também.
Como dizem: "quando a água bate na bunda"... Aí nos preocupamos relmente.
Sérgio... Como dissemos... Parece que tudo que era de absoluta importância perde o sentido num momento desses.
"Mas tudo está sobre o controle" Não é?
Mil beijos. Se cuida.
Danieli,
Havia e não havia motivos para pânico. Acredito que o grande problema que estamos passando, além da crise da segurança pública, é uma crise informativa. O Poder Público diz que está tudo bem, mas a imprensa, com seus repórteres e helicópteros nos mostravam (refiro-me ainda à noite de segunda) uma outra coisa. Se estivesse tudo bem, como teve a insensatez de declarar o Cde. Eclair da Polícia Militar, porque a Polícia toda na rua como foi visto? Porque tamanha a mobilização das forças de segurança?
Sim, certamente a própria Polícia colaborou para o clima de pânico com seus procedimentos «de rotina»: revistas, os vôos rasantes. É lamentável a resistência do Governo do Estado em recusar ajuda da Federação; é vaidade. A ajuda da União não é uma afronta ao princípio federativo - e convenhamos, se a situação continua assim, uma intervenção do Governo Federal não será mal vista pelos paulistas, visto que o Governo está na corda bamba. O grande problema é: o que será necessário ocorrer até que as autoridades despertem? Até lá, não dormiremos tranqüilos.
Sissi,
Um troféu de incompetência lingüística para o Governador Lembo e para o Comandante Eclair.
Cícero,
Discordo um pouco que era previsível tal estado de caos. Era notório sim que, as facções criminosas exerciam amplo poder dentro do sistema carcerário, afrontando-se contra o Estado.
O medo e o pânico são coisas que contagiam. Basta uma pessoa nervosa para que dez também o fiquem. Quanto à postura da Universidade, acredito que a discussão seja um bom caminho, mas não agora. Ninguém discute sob o fogo de metralha; infelizmente o fechamento da Faculdade foi algo que nos foi simbólico e muito. Acredito sim, que, passada essa onda, deva-se sentar e discutir - inclusive para se evitar que a «legislação do pânico», essas medidas apressadas e paliativas tome corpo.
Certo que a situação atual é o resultado de anos de negligência do Estado para com determinados setores da sociedade, mas agora é hora de agir energicamente; palavras não nos salvarão, precisamos de acções concretas para uma situação de emergência.
Camila,
Foi o que eu já disse atrás: ninguém consegue raciocinar numa hora dessas; e precisamos de acções rápidas para solucionar o estrado de exceção no qual estamos.
Não só eu (evidentemente), mas as pessoas estão acuadas. Não podemos viver desse jeito.
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