312. Paranapiacaba
Paranapiacaba
Névoa – esconde, oculta.
Chuva – umedece,
lentamente dissolve
até as pedras
dentre as trevas
nunca devolve,
nunca oferece –
só a solidão que avulta.
Teus vagões não andam mais,
jamais verão novamente o cais.
Mortos, jazem no alto –
num movimento falto.
A umidade corrói o ferro,
a umidade corrói os anos,
a umidade rói a Humanidade.
O mundo se revolve,
em Paranapiacaba garoa,
molham-se os ferros já sem forma,
se forma uma nódoa de bolor,
verdacha de cor.
Corroem-se os vagões que não correm,
a garoa corrói o tempo
fixo no relógio da estação,
em Paranapiacaba,
um espectral fumo de carvão,
onde as horas úmidas
são sempre as mesmas.
* * *
Vão passando os anos,
lentos em meses e dias,
e noites de névoas frias
que arrefecem a tepidez
das casas de madeira.
Arrefecem a lepidez
dos velhos homens
que hesitam em fazer
o passeio matinal.
Ficam nas suas casas de madeira,
continentes um silêncio sepulcral,
continentes de suspensão,
em que a lenta sucessão das efemérides
é registrada em xilogravura
pelos dentes das térmites.
* * *
E logo, esse delírio britânico
de puxadores de trens
e criadores de trilhos
voltará a ser o que fora:
nada, o nada dissolvido na névoa.
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