Sem título
«Olla o modo como andan
derrotados os lúcidos, os probes conformados coa miséria,
e non pregunta.»
(Perceval, de Xosé Luís Méndez Ferrín)
derrotados os lúcidos, os probes conformados coa miséria,
e non pregunta.»
(Perceval, de Xosé Luís Méndez Ferrín)
Tudo gira, tudo anda. Passam os bondes, os ônibus, os automóveis, os foguetes, os satélites; quem sabem logo a próxima sonda para Marte. Eu continuo parado no ponto; sem perspectivas de deslocamento. Não é somente a língua que tenho presa no passado e imobilizada, também é assim a minha alma.
Lá fora, pela minha janela gradeada, vejo que chove; mas que ao mesmo tempo, as coisas pegam fogo. Arafat está à beira da morte, Bush foi reeleito, escândalos ministeriais (eis novamente os generais-de-pijama), a minha agência que está lá, esperando-me avidamente para segunda-feira. Alguns podem já, de antemão, alcunhar-me alienado; pois na verdade é bem ao contrário, todos estes assuntos afligem-me imensamente; fora os mais comuns - que se tornaram comum, que absurdo! A fome, a pobreza, as moscas que pulalam nos lábios das crianças etíopes e somalis, das nossas crianças do Setentrião agreste e inóspito, a falta d’água, as manchas do petróleo-é-nosso pelo mare-nostrum A roubalheira dos políticos, os currais eleitorais, a violência urbana, a urbe sufocada em si mesma e asfixiada nos próprios dejetos. E todos portam-se como se fora tudo normal! Preocupam-se com mesquinharias, lêem Paulo Coelho no metrô.
E eu, que quero dizer com este rol de desgraças e infâmias? Nem mesmo eu bem o sei. Elas acuam-me todos os dias, fustigam-me pelo noticiário do rádio e pelas páginas dos jornais - penduradas feito galhardetes nas bancas; puxam-me o tapete de sob os pés. Devido a tudo isso, fiz-me áspero - às vezes intratável. As pessoas falam commigo e delicadamento desvio a atenção da conversa para o nada: uma janela aberta, um céu azul, uma árvore ondulada pelo vento. Fora as minhas próprias veleidades. E afinal, onde quero chegar com tudo isto? Talvez a um pedido de desculpas aos que me conhecem e são obrigados a conviver commigo. Mando-vos desculpas pela vicenda inoportuna, talvez até uma desculpa pela minha qualidade de ser humano, pela minha própria existência.
Também eu, mesquinho e egoísta, geralmente volto-me com muita freqüência aos meus desidérios, aos meus castelos de vento e com isto vos importuno; os meus amores irrealizáveis - isto principalmente. Aproveito o ensejo de desculpar-me com os meus sete, oito leitores (vê, Ërico, tens tu mais leitores) por estas lamúrias sem nexo algum, mas infelizmente não resisti a publicá-las, visto meu actual estado de apatia e desilusão; acabei por transformar este blog num antro das minhas misérias pessoais (disfarçadas e travestidas? mas quem não as entende e sabe-as perfeitamente, tão mal ocultador sou eu!). E sabeis bem que não era esse bem o intuito.
Reitero as minhas desculpas, a qualquer parte ofensa, por qualquer coisa que vos incomode ou por qualquer expressão incompreendida; pela minha empáfia.
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