289. Um (quase) conto de Carles Sindreu
Quase um conto
Esta tarde, a boa mãe falou sobre seus quatro filhos obedientes, estudiosos, e a senhora da loja embrulhou para ela, com papel de seda, seis bombons de chocolate, brilhantes, com um interior enigmático – talvez seja fruta cristalizada, ambrosia, noz ou avelã. Embrulhou-lhe seis, porque sabe que a boa mãe é louca pelos bombons e que não pode comer muito, somente de tempos em tempos, e consigo pensou: «Dois para ela e um para cada menino».
A mãe, com passo resignado, vai em direção ao ponto do bonde. Numa mão, o grande pacote dos sapatos usados e na outra o pequeno pacote das gostosuras. Atravessando uma praça deserta desembrulhou-o já duas vezes, fazendo farfalhar o papel de seda. Agora sente ainda mais forte o desejo, depois da retomada do passo.
«Ao maior, veja-se bem, agrada-lhe os bombons, mas… vou comer o seu… não vai ligar. É um menino tão bom…»
E desembrulha o pacotinho novamente.
O ponto está ainda mais longe. Então, toma uma rua estreita que tem um ligeiro declive.
«Meu Deus… E agora, uns sim e outros não… serei eu tão cruel a ponto de fazer distinções entre os meus filhos?»
E a santa mulher ia sempre deglutindo…
O bonde levou um bom tempo para chegar. Ela limpou os lábios pálidos com um lenço bordado. Pobre mãe, que leva uma vida de sacrifícios sem outra compensação, a não ser aquele furto pueril que comete a cada quinze dias contra seus próprios filhos!…
Quando a boa mulher pousa seu pé pesado no estribo do bonde de subúrbio, deixa cair dissimuladamente o papel de seda inútil que conteve os bombons. O papel de seda, amassado e trabalhado pela sua mão nervosa tornou-se uma bolinha branca e pequena – uma bola de pingue-pongue – que o vento vai levando entre o brilho dos trilhos.
Quasi un conte
Aquesta tarda, la bona mare ha parlat dels seus quatre fills submisos, estudiosos, i la senyora de la casa li ha embolicat amb un paper de seda sis bombons de xocolata, lluents, amb un interior enigmàtic —potser fruita confitada, neula, nou o avellana. Li n’ha embolicats sis, perquè sap que la bona mare es fon pels bombons que no pot menjar més que de tant en tant , i ha pensat: «Dos per a ella i un per a cada noi».
La mare, amb el pas resignat, fa via vers la parada del tram. En una mà el gros paquet de les sabates usades i en l’altra el petit paquet de la llepolia. En travessar una plaça deserta ha desembolicat ja dues vegades tot fent cruixir el paper de seda. Ara sent encara més fort el desig després de la represa.
«Al noi gran, ben mirat, ja li agraden ja, però… Em menjaré el seu… No s’enfadarà pas. Es tan bon xicot…»
I desembolica novament.
La parada encara és lluny. Ara enfila un carrer estret que fa una baixada ràpida.
«Déu meu… I ara els uns sí i els altres no… Seré prou cruel per a fer distincions entre els meus fills?»
I la santa dona segueix engolint sempre…
El tram ha trigat una bona estona a arribar. Ella s’ha eixugat els llavis pàl·lids amb un mocador sargit. Pobra mare que porta una vida de sacrifici sense altra compensació que aquell furt pueril que fa cada quinze dies als seus propis fills!…
Quan la bona dona posa el seu peu feixuc sobre l’estrep del tramvia de suburbi, deixa caure amb dissimulació el paper de seda inútil que contenia els bombons. El paper de seda, arrugat i treballat per la seva mà nerviosa ha esdevingut una piloteta blanca i menuda —una bala de ping-pong— que la ventada s’emporta entre la lluïssor dels rails.
1 Comentários:
Fique o senhor sabendo que por culpa disso aqui eu precisei comer três sonhos de valsa.
Brincadeira, o texto é lindo.. Vou dar um ENQUADRA na minha mãe pra saber se ela anda fazendo isso.
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