sábado, março 18

281. Três notas finisseptimanais

I
Cesária Évora

Ontem, sexta, comprei-me na banca de livros usados da Faculdade, o São Vicente di Longe, da Cesária Évora. Que posso dizer; é simplesmente ótimo. Fora que bati de frente com algo que conhecia somente na teoria, por via de uma monografia da Faculdade que fiz no já cada-vez-mais longínquo primeiro ano: o crioulo de Cabo Verde. Realmente, sem o encarte do cd, torna-se incompreensível, mas não desprovido da devida melifluidez na belíssima voz da cabo-verdiana.

II
Grafias do coração

Fico na obrigação de explicar a opção de grafia a Sem Cantigas. A antiga unidade monetária espanhola, a peseta, faz parte do meu vocabulário fundamental. Primeiro, pela minha condição de numismata amador desde pequeno e depois, por causa da minha avó, que eventualmente conta suas histórias-de-espanha e nelas refere-se a velha moeda. Em espanhol, como é notório, independentemente de onde esteja na palavra, tem sempre som surdo, ou seja, o que pode ser chamado de «som primordial» do esse, o primeiro associado ao esse gráfico, a própria idéia de som evocada pela letra. Ouvi sempre a moeda dita com o esse surdo; mas quando dei de cara com a grafia (com uns seis ou sete anos) eis que ali, ao contrário do pregado pela professora Elza, um esse entre dente duas vogais que não tinha som de zê, ou seja, não-sonoro. Um dia – não sei porquê raios de razão, quais assuntos que invocam a palavra que esquecemos o assunto e não a palavra – pronunciei-a perto da minha prima, que me corrigiu a pronúncia de sonora para surda; não, «pezeta» não entra na minha cabeça.
Até que um dia, vendo por um sítio de cédulas de coleção, dou de cara com uma cédula de uma pesseta, impressa na Catalunha durante a Guerra Civil (1936-9) e ao invés do una peseta espanhol, eis que a grafia, em catalão, apontava o valor da cédula una pesseta. Pronto, uma solução gráfica; acredito mais coerente e também me é cordial.

III
Per a llegir

Um interessante portal sobre literatura catalã: Lletra.

5 Comentários:

Blogger Camila Rodrigues disse...

Adorei as notas, especialmente a 2!
Você tem muito a ensinar, mocinho...
Beijos
Ca

segunda-feira, março 20, 2006 9:02:00 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

Passei para olhar e gostei...
beijinho Susi

quinta-feira, março 23, 2006 9:31:00 da tarde  
Blogger Mónica disse...

pois! a invulgaridade do príncipe continua! (grafia do coração é uma expressão muito bonita)
pra próxima não digo nada, é mesmo coisa tua, com razãos etnográficas/catalãs/nacionalistas/amorosas ou não!

sábado, março 25, 2006 6:11:00 da tarde  
Blogger Mónica disse...

moro muito perto da galiza, pertíssimo em quilómetros brasileiros! conheces as tuas origens in situ?
:-)

sábado, março 25, 2006 6:13:00 da tarde  
Blogger Sérgio disse...

Pois é, só não sei se a grafia é aceita pela Academia de Letras, mas se não for, fica instituido o pt-vn (variante venarda) rs.

Então, nunca atravessei o Atlântico em direção ao Levante... :(

terça-feira, março 28, 2006 12:44:00 da tarde  

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