quinta-feira, dezembro 22

235. Mensagem de Natal

Que força é essa, amigo?
Que te põe de bem com os outros
e de mal contigo?
(Que força é essa?, Sérgio Godinho)

Mais um ano que se passa, que nos escorre diante da vista sem que nada possa ser feito; são datas simbólicas, efemérides que, mesmo comemoradas em outras datas, como o fazem outros povos e outras culturas, simbolizam a mesma coisa, um rito de passagem. As datas de fim-de-ano são como a gradação dum béquer ou duma régua, passa-se por sobre e ponto.
Não me entra na cabeça que todo ano sejamos obrigados a agüentar as mesmas mediocridades: as pomposas e cafonas decorações natalinas dos bancos, os miseráveis pinheirinhos espalhados pelos subúrbios, os papais-noéis - os pais-natal - encardidos pela poeira de armário de onze meses de vários anos.
E as pessoas iludem-se com tudo isso, se deixam carregar pelos cantos de sereia da televisão, pelo crediário das Casas Bahia, pelas financeiras e comprometem suas finanças pessoais por boa parte do ano vindouro. Agora o comércio deu com a moda de ficar aberto por «jornadas homéricas de natal», como anunciou há alguns dias uma rede de lojas de departamento que estaria aberta durante 60 horas ininterruptas.
Apesar de tudo parecer tão ilógico, deixam-se levar pela vida cara e cor-de-rosa, enquanto continuam a ser a mesma alma mesquinha e os miseráveis sem-natal continuam esmolando pelas ruas; o final-do-ano serve para mim, para um maior asco e uma maior descrença na Humanidade. Carregam-se pacotes, pacotinhos e pacotaços com fitas doiradas e papéis brilhantes enquanto outros, sem natal, estouram-se as tripas em alguma guerra perdida em África. E enquanto você devora o seu tender ou o seu pernil, ou o seu peru, que seja, fabricado ou produzido por algum grande cartel ou conglomerado de productos alimentícios, outros continuam atravessando os dias de estômago murcho porque uns tantos mil milhões de gafanhotos deram fim na colheita do ano.
Fora que se você não conseguiu pôr os pingos nos is durante o ano todo, não é agora que você conseguirá pôr agudos e circunflexos em consoantes.

Não tenho mais nada a dizer sobre as datas términes do ano; somente informo que este blogue entrará em recesso navidenho e retornará com alguma coisa mais útil, a partir do dia 3 de janeiro; à medida do possível, um feliz natal e um próspero ano-novo, nos vemos no ano próximo com as nossas mediocridades consuetas.

5 Comentários:

Blogger flogisto_calavera disse...

é tudo uma questão de aceitar ou não o mito.

sexta-feira, dezembro 23, 2005 5:06:00 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

bah, sérgio, isso tudo foi muito clichê :).

sábado, dezembro 24, 2005 12:39:00 da tarde  
Blogger Sérgio disse...

Dani,

Realmente, mas a época é propícia a clichês. Que posso fazer, se a televisão e a mídia e os tabelões publicitários gritam asnidades e banalidades? Infelizmente, contamino-me.

Breno,

Sim. Pessoalmente acho que o Pai-Natal fora devorado pelos cães-de-trenó de alguma expedição ao Ártico no começo do século passado.

sábado, dezembro 24, 2005 2:45:00 da tarde  
Blogger Jeferson Ferreira disse...

não sei se é frieza, se é certo orgulho ou simples despeito, mas é incrível como, p mim, a esperança ganha ares de excesso, demasia pequeno burguesa...

domingo, dezembro 25, 2005 4:57:00 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

Olá, Conde

Quero te desejar ume excelente término de ano e mais excelente ainda será o início do ano novo!

Quero que tenha certeza de que é bem especial por aqui... E em janeiro temos concerto, viu? Estou vendo algum!

Beijos

Anahid

domingo, dezembro 25, 2005 10:43:00 da manhã  

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