Se um viajante numa tarde de verão...
Se o texto que vos ponho nesta postagem tiver alguma relação com o último, não será mera coincidência. Este de agora foi escrito primeiro, e inconscientemente serviu de base para o outro. Trata-se de uma tentativa de um começo de romance, do projecto que comentei com Dom Orlando. Ainda não tem título, e esse cabeçalho que meti aí em cima, não passa de uma brincadeira, já que o calor e o verão estão presente nos dois.
I
Era verão em Belavoda; ao meio dia, as pedras do calçamento tiritam sob o sol, e às duas da tarde parecem incandescentes. Logo cedo, o calor faz-se presente, mesmo que a noite tenha sido fresca e húmida. Mesmo com o calor, os diretores e dirigentes das empresas e das repartições públicas de Belavoda fazem questão do traje social impecável: calça, camisa, gravata e colete. Os bondes com destino à praça Czernoczékow descem a ladeira do Comércio com gente engravatada até no estribo, e aquelas pessoas de pé, com as gravatas esvoaçando e batendo no rosto do passageiro de trás, é uma das cenas mais pitorescas da Belavoda capital; ao turista desavisado, pode parecer peça publicitária de loja de departamento. «Somos europeus», dizem os governantes, «temos de dar o exemplo. Ou achais que somos gentes de África para andar de tanga?!».
Essa citação das «gentes de África» vai bem para os britânicos, que têm um império colonial, e até para os franceses. Agora, a pequena Letávia, em plena Europa Oriental, cravada entre a Polônia e o protetorado dos Sudetos, a África era um espaço onírico. Talvez os trabalhadores, após o expediente, refastelados na grama do Parque Central, às margens do pequeno Tjevá, sob o olhar fulminante da estátua de bronze do imortal da literatura letava, não pensem na África, nem na guerra que se desenvolve ao norte. Afinal, a Letávia não é a Polônia. Sim, embora eslava também, mas os ventos dos pan-eslavismo já passaram e os alemães não têm o que vir cheirar aqui.
Há alguns dias, o Marechal Beznjakovicz tranqüilizou a população com um pronunciamento em cadeia nacional pelo rádio - e depois transcrito pelos três jornais do país - no qual declarou a Letávia neutra e intocável, como já sancionado pela Câmara Nacional. Beznjakovicz está no poder desde 1919, quando, por um plebiscito estipulado pelo Tratado de Versailles, a Letávia optou pela independência ao invés de ser província da nascente Tchecoslováquia; calcinou-se do domínio austro-húngaro e nele via os tchecos. Beznjakovicz lembra um pouco Pilsudski, principalmente pelos bigodes.
Era verão em Belavoda; ao meio dia, as pedras do calçamento tiritam sob o sol, e às duas da tarde parecem incandescentes. Logo cedo, o calor faz-se presente, mesmo que a noite tenha sido fresca e húmida. Mesmo com o calor, os diretores e dirigentes das empresas e das repartições públicas de Belavoda fazem questão do traje social impecável: calça, camisa, gravata e colete. Os bondes com destino à praça Czernoczékow descem a ladeira do Comércio com gente engravatada até no estribo, e aquelas pessoas de pé, com as gravatas esvoaçando e batendo no rosto do passageiro de trás, é uma das cenas mais pitorescas da Belavoda capital; ao turista desavisado, pode parecer peça publicitária de loja de departamento. «Somos europeus», dizem os governantes, «temos de dar o exemplo. Ou achais que somos gentes de África para andar de tanga?!».
Essa citação das «gentes de África» vai bem para os britânicos, que têm um império colonial, e até para os franceses. Agora, a pequena Letávia, em plena Europa Oriental, cravada entre a Polônia e o protetorado dos Sudetos, a África era um espaço onírico. Talvez os trabalhadores, após o expediente, refastelados na grama do Parque Central, às margens do pequeno Tjevá, sob o olhar fulminante da estátua de bronze do imortal da literatura letava, não pensem na África, nem na guerra que se desenvolve ao norte. Afinal, a Letávia não é a Polônia. Sim, embora eslava também, mas os ventos dos pan-eslavismo já passaram e os alemães não têm o que vir cheirar aqui.
Há alguns dias, o Marechal Beznjakovicz tranqüilizou a população com um pronunciamento em cadeia nacional pelo rádio - e depois transcrito pelos três jornais do país - no qual declarou a Letávia neutra e intocável, como já sancionado pela Câmara Nacional. Beznjakovicz está no poder desde 1919, quando, por um plebiscito estipulado pelo Tratado de Versailles, a Letávia optou pela independência ao invés de ser província da nascente Tchecoslováquia; calcinou-se do domínio austro-húngaro e nele via os tchecos. Beznjakovicz lembra um pouco Pilsudski, principalmente pelos bigodes.
2 Comentários:
Cara, faz logo o resto... Vc tem aquele negocio q todo escritor tem, mas ninguém consegue explicar...
...ansiosa para o próximo trecho.
parabéns
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