Nove meses em pedaços módicos
Interrompo o nascituro romance e aproveito a minha última semana de banco para prover-vos dumas historietas metidas a engraçadinhas que pude coleccionar nesses nove meses passados. O fato lamentável não é o péssimo estilo ou a linguagem mal alocada, mas sim que são todos fatos reais.
Extratos e higiene
Dia de pagamento. Agência lotada, gente impaciente. Os que vão ao banco, a população civil quase sempre qualificam os funcionários de banco como «moles», «preguiçosos» e outros tantos elogios, como o totêmico animal lesma. Na fila, uma boa vintena - no mínimo - de cenhos franzidos, mãos impacientes e nervosas, pigarreadas vindas de todos os lados. Cara fechada de todos, indelicadezas aspergidas com larga mão; meias palavras.
Era um dia desses; o setor de atendimento, embora não tão cheio, é sempre atarefado, já que é o poço das veleidades dos clientes, visto como se fosse o país das maravilhas - ou o corredor polonês? Realmente, era um dia em regra; caixas cheios e setor de atendimento igual. Eu me desdobrava para por termo a uma operação de empréstimo; sempre começo devagar, com uma morosidade, digamos, burocrática, porém, com o escorrer dos minutos a cara de nada dos clientes e o olhar dissimulado de cachorro chorão, começam a deixar-me nervoso e procuro despachá-los o mais rápido quanto eu puder. A certa altura, com uma dessas peças abundantes sentadas diante de mim, procurei movimentar-me o mais rápido possível, para evitar de ver-lhe a face por muito mais tempo; precisava eu duma informação e dos dois terminais do hemisfério ocidental da agência estavam ocupados. E éramos três funcionários.
A solução foi recorrer ao terminal soviético, ou seja do outro lado, o terminal da tesouraria. Enquanto fazia a travessia de míseras jardas - cujo checkpoint era um desses horrendos bebedouros a galão, presentíssimos hoje pelos locais públicos, salas de espera principalmente -, fui interpelado por um curioso senhor, um misto de Mister Magoo com Getúlio Vargas; olhava-me raivoso do seu metro e meio de altura, quase punha-se nas pontas dos pés. Mesmo eu não sendo um colosso de altura com os meus um metro e oitenta e dois centímetros, tive de abaixar a cabeça para olhá-lo. Como seu olhar cortante continuava a agir e ele, com os lábios retesados e um papelucho comprido e amarelado simplesmente não falava, resolvi perguntar:
- Senhor, que ocorre?
Ergueu-me o papel até quase o nariz. Era um extrato, interrompido. E pronunciou carregadamente, apontando para a máquina de auto-atendimento:
- Acabou o papel!
- O que? - perguntei, como quem não entendera, num - confesso - nítido pouco-caso.
- Ah, acabou o papel... - voltei-me num tom de voz simpático - Entonces, limpa com jornal...
- O que? - voltou-se brusco.
- Nada, já vou avisar a tesoureira. - respondi e esgueirei-me pela tesouraria.
Depois daquele instante, breve instante, fiquei o resto do dia com um leve sorriso preso nos lábios; sorriso que guardava uma gargalhada, não solta por mero pudor e amor à própria existência. Enquanto afastava-me do homúnculo, a tesoureira já se mobilizava com os rolos de fita para o mesozóico cash.
Era um dia desses; o setor de atendimento, embora não tão cheio, é sempre atarefado, já que é o poço das veleidades dos clientes, visto como se fosse o país das maravilhas - ou o corredor polonês? Realmente, era um dia em regra; caixas cheios e setor de atendimento igual. Eu me desdobrava para por termo a uma operação de empréstimo; sempre começo devagar, com uma morosidade, digamos, burocrática, porém, com o escorrer dos minutos a cara de nada dos clientes e o olhar dissimulado de cachorro chorão, começam a deixar-me nervoso e procuro despachá-los o mais rápido quanto eu puder. A certa altura, com uma dessas peças abundantes sentadas diante de mim, procurei movimentar-me o mais rápido possível, para evitar de ver-lhe a face por muito mais tempo; precisava eu duma informação e dos dois terminais do hemisfério ocidental da agência estavam ocupados. E éramos três funcionários.
A solução foi recorrer ao terminal soviético, ou seja do outro lado, o terminal da tesouraria. Enquanto fazia a travessia de míseras jardas - cujo checkpoint era um desses horrendos bebedouros a galão, presentíssimos hoje pelos locais públicos, salas de espera principalmente -, fui interpelado por um curioso senhor, um misto de Mister Magoo com Getúlio Vargas; olhava-me raivoso do seu metro e meio de altura, quase punha-se nas pontas dos pés. Mesmo eu não sendo um colosso de altura com os meus um metro e oitenta e dois centímetros, tive de abaixar a cabeça para olhá-lo. Como seu olhar cortante continuava a agir e ele, com os lábios retesados e um papelucho comprido e amarelado simplesmente não falava, resolvi perguntar:
- Senhor, que ocorre?
Ergueu-me o papel até quase o nariz. Era um extrato, interrompido. E pronunciou carregadamente, apontando para a máquina de auto-atendimento:
- Acabou o papel!
- O que? - perguntei, como quem não entendera, num - confesso - nítido pouco-caso.
- Ah, acabou o papel... - voltei-me num tom de voz simpático - Entonces, limpa com jornal...
- O que? - voltou-se brusco.
- Nada, já vou avisar a tesoureira. - respondi e esgueirei-me pela tesouraria.
Depois daquele instante, breve instante, fiquei o resto do dia com um leve sorriso preso nos lábios; sorriso que guardava uma gargalhada, não solta por mero pudor e amor à própria existência. Enquanto afastava-me do homúnculo, a tesoureira já se mobilizava com os rolos de fita para o mesozóico cash.
Matemática burocrática
Às vezes, quase sempre, o «sistema» dava algum tipo de guasto que nos impedia das coisas mais óbvias, como por exemplo, a emissão dum abominável contrato de cheque especial. Quando ocorria tamanha boçalidade electrônica, a única salvação possível era a recorrência aos formulários impressos; e como tem de ser em duas vias, era necessária também a recorrência ao segundo melhor amigo do burocrata: o papel-carbono; sim, o segundo, pois os primeiros são os seus carimbos.
Dias desses, ocorreu uma boa: folha sobre folha; mas e agora, onde está o papel-carbono?
- Viste por acaso o papel-carbono? - perguntei à minha colega de trabalho.
- Hum... na gaveta de baixo, aí, na segunda... isso; tem um envelope. Esse mesmo...
De posse do envelope, enfiei a mão dentro e comecei a puxar a folha.
- Esse é só um pedaço... uns três-quintos... não serve.
A mão voltou para o envelope. Outro pedaço.
- Um-terço. Também não dá...
Volta a mão.
- Oito-décimos... nada mal; falta só um pouco.
A gerente, de escuta, não pôde deixar de ouvir e rir.
- Vais bem de fração! - rebateu-me a minha colega. - Agora, carbono inteiro que é bom, nada, né?
Dias desses, ocorreu uma boa: folha sobre folha; mas e agora, onde está o papel-carbono?
- Viste por acaso o papel-carbono? - perguntei à minha colega de trabalho.
- Hum... na gaveta de baixo, aí, na segunda... isso; tem um envelope. Esse mesmo...
De posse do envelope, enfiei a mão dentro e comecei a puxar a folha.
- Esse é só um pedaço... uns três-quintos... não serve.
A mão voltou para o envelope. Outro pedaço.
- Um-terço. Também não dá...
Volta a mão.
- Oito-décimos... nada mal; falta só um pouco.
A gerente, de escuta, não pôde deixar de ouvir e rir.
- Vais bem de fração! - rebateu-me a minha colega. - Agora, carbono inteiro que é bom, nada, né?
Telefone
A maior maldição que havia naquela agenciazinha eram os telefones; três linhas que apitavam o dia todo. E duas justamente do nosso lado, tocavam simplesmente o dia todo e sempre nos momentos mais inoportunos. Do lado-de-lá da linha, sempre as perguntas mais obtusas: «quanto está o meu saldo?», «a senhora não conhece o serviço de disque-saldo?», eu costumava responder; «não sei usar; você pode dar uma olhadela pra mim?»; «certo», rangia eu, «qual o número da conta?»; «ah, eu me esqueci; não dá pra ver pelo nome?». Fora os telefonemas mais estranhos: «Caixa Estadual de Pecúlio», atendia eu; «ah, bom-dia... você pode me dizer se tem muita gente na fila?». A primeira vez que ouvi essa pergunta, fiquei como se atropelado por um caminhão, atônito: «como é?»; «se tem muita gente na fila...». Com o tempo, aprendi a tratar desses casos; certa vez, há não muito tempo, uma dessas acéfalas telefonou e fez essa pergunta, eu: «não, pode vir que está vazio!». Mentira, a fila estava para fora; chegada a moçoila, foi direto ao atendimento tirara satisfação. Apontou para mim:
- Foi com você qu’eu falei no telefone agora?
Conheci a voz esganiçada imediatamente.
- Foi sim.
- Você me disse que ’tava vazio! - rugiu a funcionária pública.
- Pois é, vê só que coisa - respondi sentado, sem me distrair do que eu estava fazendo -; vieram todos num bolo só... eles são assim, tomam a agência de assalto...
Ou então quando as pessoas queriam resolver pelo telefone o que somente poderia ser feito pessoalmente.
- Caixa Estadual de Pecúlio, bom-dia.
- Bons-dias; eu queria fazer uma transferência da minha poupança pra minha conta-corrente e fazer um doc pra minha conta no Itaoca.
- A transferência de poupança para conta-corrente o senhor faz no auto-atendimento; o doc tem de vir aqui pra fazer.
- Não dá pra fazer por telefone? Que absurdo! No Banco Ceausescu fazem!
- Impossível; é necessário que se assine o doc.
Depois da explicação, despedi-me e pus o fone no gancho. Dali uns dez minutos, o telefone tocou de novo: era o mesmo correntista.
- Puxa, não dá mesmo pra fazer o doc sem ter de ir aí...?
- Foi com você qu’eu falei no telefone agora?
Conheci a voz esganiçada imediatamente.
- Foi sim.
- Você me disse que ’tava vazio! - rugiu a funcionária pública.
- Pois é, vê só que coisa - respondi sentado, sem me distrair do que eu estava fazendo -; vieram todos num bolo só... eles são assim, tomam a agência de assalto...
Ou então quando as pessoas queriam resolver pelo telefone o que somente poderia ser feito pessoalmente.
- Caixa Estadual de Pecúlio, bom-dia.
- Bons-dias; eu queria fazer uma transferência da minha poupança pra minha conta-corrente e fazer um doc pra minha conta no Itaoca.
- A transferência de poupança para conta-corrente o senhor faz no auto-atendimento; o doc tem de vir aqui pra fazer.
- Não dá pra fazer por telefone? Que absurdo! No Banco Ceausescu fazem!
- Impossível; é necessário que se assine o doc.
Depois da explicação, despedi-me e pus o fone no gancho. Dali uns dez minutos, o telefone tocou de novo: era o mesmo correntista.
- Puxa, não dá mesmo pra fazer o doc sem ter de ir aí...?
O nosso cash
A agência era simplesmente um ovo. Nada mais cabia, o espaço era extremamente exíguo, o que salvava as nossas vistas das palúrdias faixas promocionais de metros e metros de plástico amarradas entre as colunas. Não tínhamos colunas. Pelo problema do espaço, mantínhamos ainda um terminal de auto-atendimento - o anglicizado cash - dos primórdios da informatização do banco, tanto que na minha opinião, ele deveria ser mantido como um monumento, porque não numa praça?
O grande problema é, que pela idade e o uso contínuo, o equipamento começou a apresentar defeitos dos mais variados. Certa feita, quando a tesoureira quando terminou de abastecê-lo e foi fechá-lo, vistoriou os mecanismos e empurrou toda parafernália para dentro, como sempre; nesse interim, algum circuito entrou em curto provocando uma chuva de centelhas acompanhada de uma coluna de fumaça preta. Certo que antes desse prodigioso fim de ato, a tesoureira já estava por trás do balcão, a uns dois metros de distância, no mínimo.
O mecanismo no cash é assaz curioso, quando é necessário carregá-lo com as notas ou consertá-lo, o mecanismo sai sobre um trilho e fica exposto, na frente da máquina. Mecanismo esses que consiste numa espécie de caixa metálica, cuja lateral e cheia de engrenagens interligadas; fora um folezinho que dá «ares hidráulicos» ao engenho. Há ainda o barulho absurdo; quando saem as notas, a impressão que se tem é que foi aberta a porta do inferno. Os comentários irônicos entre nós mesmos, funcionários, era inevitável:
- Esse é do tempo do imperador!
- Que? É do neolítico.
- Olha, eu acho que ele foi montado com os restos de um panzer alemão...
- Também, se os Estados-Unidos descobrem que nós temos uma máquina desta, nos bombardeiam.
É uma máquina terrível, que parece alimentar-se das injúrias e gracejos que lhe são dirigidos e em resposta trava o dinheiro, come os extratos, engole os cartões; parece pura birra. Empaca tal-qual um jumento. Não raras vezes, quando via alguém a tentar tirar dinheiro, pensava comigo, justo quando começava o barulho; e se invés de dinheiro, a máquina soltasse uma saravaida de rolhas, por exemplo. Ou começasse a tocar música? Vinda daquele cash, nada era impossível.
Certamente ela sobreviverá a todos nós; mesmo que empoeirada, abandonada num depósito longínquo, quando for substituída por outra mais moderna; praguejará contra os que praguejaram contra ela. E no dia do Juízo Final, ela estará lá, do lado direito, donde há-de vir a jugar credores e devedores.
O grande problema é, que pela idade e o uso contínuo, o equipamento começou a apresentar defeitos dos mais variados. Certa feita, quando a tesoureira quando terminou de abastecê-lo e foi fechá-lo, vistoriou os mecanismos e empurrou toda parafernália para dentro, como sempre; nesse interim, algum circuito entrou em curto provocando uma chuva de centelhas acompanhada de uma coluna de fumaça preta. Certo que antes desse prodigioso fim de ato, a tesoureira já estava por trás do balcão, a uns dois metros de distância, no mínimo.
O mecanismo no cash é assaz curioso, quando é necessário carregá-lo com as notas ou consertá-lo, o mecanismo sai sobre um trilho e fica exposto, na frente da máquina. Mecanismo esses que consiste numa espécie de caixa metálica, cuja lateral e cheia de engrenagens interligadas; fora um folezinho que dá «ares hidráulicos» ao engenho. Há ainda o barulho absurdo; quando saem as notas, a impressão que se tem é que foi aberta a porta do inferno. Os comentários irônicos entre nós mesmos, funcionários, era inevitável:
- Esse é do tempo do imperador!
- Que? É do neolítico.
- Olha, eu acho que ele foi montado com os restos de um panzer alemão...
- Também, se os Estados-Unidos descobrem que nós temos uma máquina desta, nos bombardeiam.
É uma máquina terrível, que parece alimentar-se das injúrias e gracejos que lhe são dirigidos e em resposta trava o dinheiro, come os extratos, engole os cartões; parece pura birra. Empaca tal-qual um jumento. Não raras vezes, quando via alguém a tentar tirar dinheiro, pensava comigo, justo quando começava o barulho; e se invés de dinheiro, a máquina soltasse uma saravaida de rolhas, por exemplo. Ou começasse a tocar música? Vinda daquele cash, nada era impossível.
Certamente ela sobreviverá a todos nós; mesmo que empoeirada, abandonada num depósito longínquo, quando for substituída por outra mais moderna; praguejará contra os que praguejaram contra ela. E no dia do Juízo Final, ela estará lá, do lado direito, donde há-de vir a jugar credores e devedores.
Ajustando o relógio
Horário de verão. Dias aparentemente mais longos; às 19 horas, o sol ainda mostra sua face fulgurante. Apesar da aparente esbórnia da Madre-Natura, os estabelecimentos humanos continuam a funcionar tal qual, porém adaptados às mudanças de horário, mas mantendo seu horário numérico padrão; então se os bancos abrem às 10 e fecham às 16 nas outras estações do ano, no verão e no horário de verão, continuam inalterados, embora o fuso esteja uma hora à frente.
Certo dia estivo, às 16 e 15, porta já fechada; sona o telefone, puxo o fone do gancho, digo as balelas habituais e o meu interlocutor pergunta:
- Então, meu caro; a que horas está fechando o banco?
- A mesma de sempre - respondi eu, como se fosse a pergunta mais óbvia do mundo -, às 4 da tarde.
- Mas vocês não ficam abertos até às cinco por causa do horário de verão?
Vista à pertinência e à sagacidade da pergunta, fiquei atônito e calmamente repus o telefone no gancho. Fiquei do lado do aparelho, ainda tentando recuperar fôlego; eis que toca novamente.
- Alô? Caixa Estadual de Pecúlio!
- Então, acho que caiu a linha...
- Ah, o senhor de-novo! - respondi - É, deve ter caído...
- Então, porque não fica aberto no horário de verão até às 5?
Não adiantaria eu explicar àquele correntista impertinente que o escopo do horário de verão não era para os bancos trabalharem mais, mas sim economizar energia; optei pela via breve.
- Os horários são os mesmos de quando não é horário de verão.
- Ah! Pensei que ficavam abertos até às 5...
- Não definitivamente não.
Pergunto-me: será que seis horas não são mais que suficiente?
Certo dia estivo, às 16 e 15, porta já fechada; sona o telefone, puxo o fone do gancho, digo as balelas habituais e o meu interlocutor pergunta:
- Então, meu caro; a que horas está fechando o banco?
- A mesma de sempre - respondi eu, como se fosse a pergunta mais óbvia do mundo -, às 4 da tarde.
- Mas vocês não ficam abertos até às cinco por causa do horário de verão?
Vista à pertinência e à sagacidade da pergunta, fiquei atônito e calmamente repus o telefone no gancho. Fiquei do lado do aparelho, ainda tentando recuperar fôlego; eis que toca novamente.
- Alô? Caixa Estadual de Pecúlio!
- Então, acho que caiu a linha...
- Ah, o senhor de-novo! - respondi - É, deve ter caído...
- Então, porque não fica aberto no horário de verão até às 5?
Não adiantaria eu explicar àquele correntista impertinente que o escopo do horário de verão não era para os bancos trabalharem mais, mas sim economizar energia; optei pela via breve.
- Os horários são os mesmos de quando não é horário de verão.
- Ah! Pensei que ficavam abertos até às 5...
- Não definitivamente não.
Pergunto-me: será que seis horas não são mais que suficiente?
Segunda-feira gorda
Sexta-feira antes do carnaval; olhando para o relógio chinês de plástico, marcando os minutos para que a porta fechasse e por ela não passasse mais nenhum dos tranca-rua que gostam de vir nesses horários. Porta fechada, hora de recolher os cadáveres depois da guerra - é assim que chamávamos a mesa coberta de papéis depois de algumas operações de empréstimo sucessivas e sem intervalos. Sexta-feira e radiosa aurora de um final-de-semana duplo, pela segunda e terça de Carnaval. Pouco depois das 4 e 20, eu já de bolsa aos ombros, toca o telefone. Considerei a minha última tarefa do dia:
- Caixa Estadual de Pecúlio? - respondi com uma voz aparentando cansaço
- Boa-tarde, você pode me dizer se o banco vai abrir segunda?
- Segunda? - perguntei indignado - Não, de modo algum! O banco não vai abrir segunda.
- Como não? - perguntou a esganiçada do outro lado.
Como são todos funcionários públicos os clientes, a chance da minha interlocutora também sê-lo era maior que 90%; arrisquei.
- Porque? Por acaso a senhora vai trabalhar na segunda?!
A pessoa bateu o telefone na minha cara e azedou-me a sexta.
- Caixa Estadual de Pecúlio? - respondi com uma voz aparentando cansaço
- Boa-tarde, você pode me dizer se o banco vai abrir segunda?
- Segunda? - perguntei indignado - Não, de modo algum! O banco não vai abrir segunda.
- Como não? - perguntou a esganiçada do outro lado.
Como são todos funcionários públicos os clientes, a chance da minha interlocutora também sê-lo era maior que 90%; arrisquei.
- Porque? Por acaso a senhora vai trabalhar na segunda?!
A pessoa bateu o telefone na minha cara e azedou-me a sexta.
3 Comentários:
Sua passagem por lá foi hilária... eu também quero ser funcionário público...
Velho... aquilo tava te fazendo mal...
Mas, vem cá, arranjou outro trampo?
O lugar é um manicômio!
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