terça-feira, maio 10

Verdades bem postas




O sol já se havia posto e Juan estava afundado numa cadeira do seu café predileto, em Palermo Viejo. O trabalho o deixava aéreo de tanto tédio; largava-se abandonado nas cadeiras até que chegassem seus amigos. Passados alguns minutos assomou-se à mesa Ertzbarrieta e seus óculos de tartaruga; puseram-se a falar do mais e do menos. Mais um pouco, chega Bonomelli e entra na conversa. Conversa vai, conversa vem, Juan levanta-se para pegar mais um café, caminha em direção do caixa e quando esperava que se fosse a pessoa que era atendida então, emparelha consigo uma moça balofa; essa não tem dúvida, quando sai a pessoa que estava no caixa, simplesmente assoma-se ao balcão e faz seu pedido arrogantemente. A caixa olha Juan e pede para que faça o pedido; Juan, por questões de cavalheirismo, aponta novamente para a balofa, «pode atendê-la».

A gorducha simplesmente vira a cara para Juan, que por educação estava a sorrir-lhe; sem um obrigado, nem mesmo um aceno.

Juan foi tomado dum indescritível furor. Fez o pedido e voltou para a mesa e quando se senta novamente à mesa com seus amigos, na mesa ao lado, eis a balofa.

«Desta hoje eu me vingo!», pensou Juan consigo.

Os outros dois rapazes falavam de um programa de rádio muito popular, que descorria sobre fatos estranhos.

— Você perdeu! – berrava Bonomelli para Ertzbarrieta – Puseram no ar um cujo que tocava o hino da União Soviética pelo rabo!

Riam feito cães danados. O assunto rapidamente descambou para atos ou costumes estranhos dos que estavam nas mesas. Juan viu que seria a vingança contra a balofa, que comia sofregamente algo com queijo e melava-se toda.

— Você comeria feijão frio? – disparou Ertzbarrieta.

— Eu tenho um conhecido que come aquelas latas de feijão frias, do jeito que vêm. – complementou Bonomelli.

Olhando para a gordinha, Juan começou:

— Veja, pois eu cá sou doudo por água-de-picles.

Ertzbarrieta e Bonomelli entreolharam-se aterrados e com caretas medonhas, afastaram as cadeiras de Juan.

— Que medo! Que medo! Deus do céu! Água-de-picles?! Aquela salmoura horrível! – berrava vermelho Bonomelli.

A gorducha já olhara de canto de olho. Juan viu que estava dando certo.

— Como horrível?!

— Aquela água nojenta, depois de dias na geladeira… - continuava Bonomelli.

— Não, não… - corrigiu Juan com um tom pedagógico – Realmente se largada na geladeira, fica medonha. Tem de fazer assim: compra-se um vidro de picles, come-se-o todo e vira-se a água duma vez. Eu era capaz de tomar litros!

Bonomelli e Ertzbarrieta gritavam de nojo e de júbilo.

— Você não pode estar a falar sério! – disparou Ertzbarrieta.

— Claro que sim! Tão sério quanto eu gosto de feijão com maionese e pimenta! – arrematou Juan com um sonante tapa sobre a mesa.

A gorducha jogou no chão o que estava comendo e correu com a mão na boca. Juan sorriu de júbilo pelo canto da boca, enquanto seus dois amigos ainda exaltavam-se.

1 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Conozco muy bien esa historia, sino que se hablava de gente que tira monedas con las orejas.

terça-feira, maio 10, 2005 6:01:00 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home