Verdades bem postas
O sol já se havia posto e Juan estava afundado numa cadeira do seu café predileto, em Palermo Viejo. O trabalho o deixava aéreo de tanto tédio; largava-se abandonado nas cadeiras até que chegassem seus amigos. Passados alguns minutos assomou-se à mesa Ertzbarrieta e seus óculos de tartaruga; puseram-se a falar do mais e do menos. Mais um pouco, chega Bonomelli e entra na conversa. Conversa vai, conversa vem, Juan levanta-se para pegar mais um café, caminha em direção do caixa e quando esperava que se fosse a pessoa que era atendida então, emparelha consigo uma moça balofa; essa não tem dúvida, quando sai a pessoa que estava no caixa, simplesmente assoma-se ao balcão e faz seu pedido arrogantemente. A caixa olha Juan e pede para que faça o pedido; Juan, por questões de cavalheirismo, aponta novamente para a balofa, «pode atendê-la».
A gorducha simplesmente vira a cara para Juan, que por educação estava a sorrir-lhe; sem um obrigado, nem mesmo um aceno.
Juan foi tomado dum indescritível furor. Fez o pedido e voltou para a mesa e quando se senta novamente à mesa com seus amigos, na mesa ao lado, eis a balofa.
«Desta hoje eu me vingo!», pensou Juan consigo.
Os outros dois rapazes falavam de um programa de rádio muito popular, que descorria sobre fatos estranhos.
— Você perdeu! – berrava Bonomelli para Ertzbarrieta – Puseram no ar um cujo que tocava o hino da União Soviética pelo rabo!
Riam feito cães danados. O assunto rapidamente descambou para atos ou costumes estranhos dos que estavam nas mesas. Juan viu que seria a vingança contra a balofa, que comia sofregamente algo com queijo e melava-se toda.
— Você comeria feijão frio? – disparou Ertzbarrieta.
— Eu tenho um conhecido que come aquelas latas de feijão frias, do jeito que vêm. – complementou Bonomelli.
Olhando para a gordinha, Juan começou:
— Veja, pois eu cá sou doudo por água-de-picles.
Ertzbarrieta e Bonomelli entreolharam-se aterrados e com caretas medonhas, afastaram as cadeiras de Juan.
— Que medo! Que medo! Deus do céu! Água-de-picles?! Aquela salmoura horrível! – berrava vermelho Bonomelli.
A gorducha já olhara de canto de olho. Juan viu que estava dando certo.
— Como horrível?!
— Aquela água nojenta, depois de dias na geladeira… - continuava Bonomelli.
— Não, não… - corrigiu Juan com um tom pedagógico – Realmente se largada na geladeira, fica medonha. Tem de fazer assim: compra-se um vidro de picles, come-se-o todo e vira-se a água duma vez. Eu era capaz de tomar litros!
Bonomelli e Ertzbarrieta gritavam de nojo e de júbilo.
— Você não pode estar a falar sério! – disparou Ertzbarrieta.
— Claro que sim! Tão sério quanto eu gosto de feijão com maionese e pimenta! – arrematou Juan com um sonante tapa sobre a mesa.
A gorducha jogou no chão o que estava comendo e correu com a mão na boca. Juan sorriu de júbilo pelo canto da boca, enquanto seus dois amigos ainda exaltavam-se.
1 Comentários:
Conozco muy bien esa historia, sino que se hablava de gente que tira monedas con las orejas.
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