O poder da Literatura
O nosso professor de Literatura Italiano contou-nos simpática anedota literária, a qual não pude resistir de transcrevê-la; evidentemente, ao meu modo.
Ariosto e a Garfagnana
Ludovico Ariosto, autor do Orlando Furioso, teve na sua vida inúmeras desventuras e ingratidões; servidor do Cardeal Ippolito d’Este, acabou até limpando cavalos; Cardeal extremamente ingrato, inclusive no juízo que fez sobre o Orlando; mesmo assim, Ariosto manteve a dédica ao Cardeal nas três edições (sendo que qualquer bom cristão a teria tirado). Quando o Cardeal faleceu, acabou por prestar seus serviços ao Duque de Ferrara, Alfonso I d’Este, irmão do funto Cardeal.
O Duque, não se sabe se por desprezo às letras ou por puro maquiavelismo barato (leia-se isso no pior sentido possível), nomeou Ariosto governador na Garfagnana. Um vero presente-de-grego; a Garfagnana era uma região simplesmente infestada de bandidos e bandoleiros de toda sorta; tanto que nem a polícia ducal tentava de lá pôr os pés.
Pouco antes de chegar ao vilarejo, a diligência do novo Governador foi presa de assalto pelos bandoleiros; fizeram descer todos.
— Governador, hein? Aqui mandamos nós! E tu és já um homem morto; passa-nos tudo!
E os salteadores foram esvaziando a carruagem até que, a certo ponto, encontraram uma edição encadernada do Orlando Furioso.
— Mas como?! Tu lês o Orlando Furioso?! – espantou-se o chefe do bando. – Todos somos ávidos leitores…! Conheces o autor? Tens cara de cortesão; deves conhecê-lo!
Ariosto ficou um pouco lívido.
— Em suma… é… o autor sou eu; o fiz eu…
— Tu? Homens! Botai tudo de volta no carro de messer Ludovico… - encabulou-se um pouco.
— Que chefe?! Enlouqueceste? – levantou a cabeça um dos bandoleiros do alto da carruagem.
— Estróina! Esse senhor, Governador da Garfagnana é messer Ludovico Ariosto!
Param todos.
— Queira desculpar o incômodo, Excelência. – voltou-se o chefe – Pensávamos que fosse mais um desses pacóvios inertes que nos manda o pulha do Duque; mas o senhor não; grande homem ilustrado e agora, Governador. Vamos; o escoltaremos até a sede do Governo Civil. – deu um sonoro tabefe nas costas de messer Ariosto.
E foi assim que Ludovico Ariosto salvou-se a vida pela Literatura; e foi conduzido até o vilarejo em triunfo. O povo aglomerou-se na praça.
— Vede! Vede! O autor do Orlando é nosso Governador!
Ovações estrondosíssimas e berros de gáudio acolheram o novo Governador Civil da Garfagnana, cujo governo pacificador e conciliador entrou para os anais da política italiana; um território onde o poder constituído raramente entrava e foi totalmente cambiado.
2 Comentários:
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Leia o texto "Cultura Nacional ou Cultura do Povo? (uma crítica ao MV-Brasil) no site http://www.mcls-rj.org no link Vinni Corrêa. Abraços!
O nível dos bandidos tem caído muito desde então. Hoje, no máximo, se poderia conversar sobre o Tévez, enquanto dura a extorsão fisicamente compelida.
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