terça-feira, maio 31

Um dia, um dia

Quando abrirem esse testamento, não adiantará mais me maldizer, pois tão-já estarei no Inferno; mas o pouco que tenho, que não serve para nada nem para ninguém, o rateio assim:

Os meus diários, por favor, messer Donato, mantenha-os consigo para queima (como já disposto em versão anterior desse documento), fazendo antes a derradeira anotação; a minha coleção de moedas truste, que voltem aos seus donos, vivos ou mortos (Breno, Donato e o meu falecido tio-avô José); meus livros, a uma biblioteca pública; o que houver no bolso direito das minhas calças, deixo ao Érico, o direito geralmente está vazio; ao Nilton delego a tarefa de queimar o meu envelope de originais, para que eu não caia no ridículo dos escritores medíocres, nem vá nada parar em horrendas antologias; os meus discos, os deixo a messer Orlando. O meu coração, repartam-no e dêem um pedaço para cada um dos meus afectos mal-sucedidos; a minha cabeça, separem-na do corpo, para que os meus pensamentos não me persigam na Vida Eterna, de preferência bem-longe, na Argentina. Mandem os meus olhos para a Europa: o direito para Florença e o esquerdo para Moscovo.

Do meu emprego e das minhas rendas – pois há que os cobice – que façam o que bem entenderem.

Quem pagará meu enterro e meu funeral? Quem pagará um cruz de metal? Toquem o Glória do Ivan Susanin. Isso pouco importa, já terei ido. Me interessa tanto quanto quem irá virar a folha do meu calendário ou escutar o meu despertador tocando de manha; ou quem estiver dormindo na minha cama, vestindo o meu pijama.

3 Comentários:

Blogger Jeferson Ferreira disse...

$%&*@#**!! eu não vou ficar com nada não!!!! nem uma meia velha, ou um dente careado!!

terça-feira, maio 31, 2005 1:46:00 da tarde  
Blogger júlia disse...

afinal eu sou mulher é, não mereço, tá

quinta-feira, junho 02, 2005 12:13:00 da manhã  
Blogger Érico disse...

Eu não mexo em bolso de defunto. Tenho medo de alma!

sexta-feira, junho 03, 2005 9:26:00 da manhã  

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