quarta-feira, maio 25

São Paulo, cidade aberta. Algumas visões

Choveu e choveu muito; a linha C da CPTM ficou em alguns pontos coberta pelas águas do Pinheiros, pontos de alagamento, espelhos d’água traiçoeiros, centena e meia de quilômetros de engarrafamentos diversos e a granel; ônibus entupidos, metrôs tardígrados e trens submarinos. Um prefeito balbuciante e sem-acção; e nós todos à mercê de tudo isso e muito mais; eventuais aproveitadores assaltantes* os carros parados, banhos cas tsunâmis provindas das sarjetas, sapatos empapados e borbulhantes, barradas de calças badalantes. A música é o correr da chuva e da água a correr pelas canaletas, fora o ronronar dos motores e as eventuais buzinas impacientes.

Vejamos alguns testemunhos.

Glafkos Eleftherios Papandreou (irmão da Maria), professor de língua neo-helênica
Tenho algumas armas contra essas calamidades públicas: um toca-fitas portátil e uma fita da Elli Paspalá; além da Bíblia do Caos, do Millôr.

Mateus Pantoffoli, usurário eventual
Fiquei preso umas três horas no trânsito, mas não vi nada, fiz todo o caminho dormindo, o que me rendeu a boca seca e uma bela duma torcicolo.

Maria Domitila Militão Prado e Souza, socialaite
Tive um ataque histérico na Marginal; sai do meu carro com uma colher de pau que encontrei no assento do passageiro (e que não faço a menor idéia de onde tenha saído) e saí decepando espelhos retrovisores. Foi necessário que viessem quatro pessoas para me acalmar. Hoje eu estou melhor: me deram um remédio que me faz aparecerem triângulos amarelos no campo de visão. Mas eu não disse nada ao médico.

Ricardo Liebenvolk, vagabundo graduado
Hã? Não vi nada. Estava dormindo.

Antonia Hubón Lagos y Sánchez, imigrante boliviana
Que caos! Volto hoje mesmo para Santa Cruz de la Sierra.

Bernardo João Malgrado, consultor e psicótico
Sabe, isso que chove, que cai do céu… isso não é água… porque ninguém bebe. Na verdade (e ninguém sabe, estou contando só pra você, hem?) chove urina. É, é isso mesmo; Deus odeia a Humanidade e vai alagar tudo de mijo! (corre e larga o entrevistador).

Márcio Papaglossa, estenodactilógrafo e apedeuta plantonista
Como eu consegui chegar até o trabalho? De ônibus, estúpido; ou você acha que eu vôo?

Júlio Ferreira Moreira, meteorologista e doidivano
Tantos milímetros, choveu tanto; precisaremos de todas as réguas que a indústria puder produzir; de todos os milímetros disponíveis (começa a escarafunchar os bolsos e tira uma trena) e você, vamos, contribua, me dê as suas réguas! É uma situação de emergência pública.

1 Comentários:

Blogger Érico disse...

Como se não bastasse, caro marquês, os tais cientistas ainda levam ao quadrado sua loucura contabilística, desenvolvendo cálculos de médias mínimas e máximas.

quarta-feira, junho 01, 2005 9:30:00 da manhã  

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