Mondo cane (II)
1.
Meu chefe é absolutamente histérico, delirante e húngaro; povo geralmente taciturno e melancólico. Esse é um húngaro totalmente fora de qualquer especificação, fica nervoso e berra. Houve um tempo que as pessoas histéricas me assustavam, mas com o tempo, aprendi a encará-las como quem vê um espetáculo medíocre de circo interiorano; quando ele começa a urrar, simplesmente viro a minha cadeira na sua direção e respondo suas perguntas calma e placidamente, pausando e pesando cada palavras, enquanto ele berra, gesticula e usa de três a quatro onomatopéias numa frase curta. Continuo a mirá-lo como quem olha para um lago raso e conversa com as carpas; é quase certo que as carpas pensem mais que os chefes.
* * *
2.
— Você está atrasado de novo…
— Realmente. É o trânsito; a rua das Tílias estava simplesmente que não andava.
— Saia mais cedo de casa!
— Mais cedo?
— É, uma meia-hora mais cedo…
— Hum… (aproxima-se do supervisor e inspira o ar circunvizinho) Bem que eu desconfiava…
(o chefe põe-se a cheirar-se)
— Desconfiava do que?!
(calma e lentamente, com tom didático)
— O cheiro de água-de-colônia não vem da sua pele, mas sim da sua boca. Recomendo que pare de beber loção pós-barba, o barato é legal, eu sei, mas irrita a mucosa do estômago e é cientificamente provado que causa alucinações… como essa sugestão estapafúrdia que o senhor acabou de me dar… tem um grupo de pesquisa da Universidade Estatal que estuda esse tipo de vício; posso passar-lhe o telefone…
(os funcionários circunstantes observavam; o chefe estava quase roxo e amuado)
— Ha… he, he! Boa, hein! Ho, ho… até a hora do almoço… he, he.
* * *
veja ainda Mondo Cane (I).
1 Comentários:
ótimo... mas não só as carpas pensam mais q os chefes, praticamente todo animal invertebrado o faz!
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