Dos ovos e da religião
Almoço de domingo, o medonho risoto recendia àquilo que realmente é, uma bela miscelânea indigesta. Fazer o que? Era o que tinha e eu não iria sair para comer às 3 horas da tarde de domingo. Como de costume, apesar de não ter aberto a boca, a minha expressividade facial (como diria a Profa. Giliola) denunciou-me.
— Não precisa se preocupar… não tem ovo. – alertou a minha solícita genitora.
Uma das minhas ancestrais ojerizas. Detesto ovo, ainda mais se for cozido, formato mais adequado para um risoto.
— Não sei porque você não gosto de ovo – retrucou meu pai – ovo vai em tudo.
Pronto; estava armado o circo, a velha catilinária a favor dos ovos. O ovo que vai na massa do macarrão, que vai no bolo, que vai no diabo a quatro! Ovo, para mim, é uma das coisas mais repugnantes que existem; e até o meu Ginásio considerava a maior ofensa ser atingido por ovos no dia do aniversário.
— E quindim, você gosta? – perguntou a minha mãe.
— Odeio.
— Fio-de-ovos? Pastel-de-Santa-Clara?
— Doces portugueses são todos de ovos! Eu odeio…
Uma vez, liguei a televisão, na manhã de uma sexta desempregada e um programa de culinária ensinava a fazer uma torta portuguesa cujo recheio era nada mais nada menos de ovos-moles com fio-de-ovos. Irritei-me no acto.
A furibunda defesa dos ovos como alimento primordial, base de tudo, feita pelos meus pais irritou-me muito. Bebi mais uma taça de vinho e fui tirar o consueto cochilo dominical.
* * *
À noite, durante o meu jantar de sanduíches (risoto no microondas nem pensar), começou a discutir-se de religião. Queriam provar-me que eu não era ateu.
— Quem tem medalha de santo… de qual santo que você tem medalha?
— São Bento…
— Então; você tem medalhinha de santo; então acredita em alguma coisa…
— Não. O que tem a ver o cós com a calça?
— Não é possível que você não acredita em nada. – escarneceu meu pai.
— Claro que ele acredita! – interveio minha mãe.
— Não, não. – abanei a cabeça.
Então foi a minha vez, rebaixei o clero ao nível dos porcos, citei um poema do Fernando Pessoa no qual o Espírito Santo é uma pomba que suja cadeiras e Deus é um velho emburrado.
— Religião é coisa de atrasados! Podem ver! Os primeiros deus são representações das forças naturais; e apesar de já terem escrito isso, sabe-se-lá-deus-quem, consegui chegar à essa observação sozinho! Porque?! Porque exclusa a carolice e o fanatismo, isso é facilmente visível.
— Mas o Deus católico… - tentou intervir a minha mãe.
— Que Deus católico?! É tudo representação da mesma «força oculta» (fiz um gesto com os dedos, mostrando aspas). Que Deus!
Algumas blasfêmias.
— E mais! O Papa morreu, não morreu? Se o representante de Deus sucumbe, o Cornudo está à solta na face da terra.
— Não precisa se preocupar… não tem ovo. – alertou a minha solícita genitora.
Uma das minhas ancestrais ojerizas. Detesto ovo, ainda mais se for cozido, formato mais adequado para um risoto.
— Não sei porque você não gosto de ovo – retrucou meu pai – ovo vai em tudo.
Pronto; estava armado o circo, a velha catilinária a favor dos ovos. O ovo que vai na massa do macarrão, que vai no bolo, que vai no diabo a quatro! Ovo, para mim, é uma das coisas mais repugnantes que existem; e até o meu Ginásio considerava a maior ofensa ser atingido por ovos no dia do aniversário.
— E quindim, você gosta? – perguntou a minha mãe.
— Odeio.
— Fio-de-ovos? Pastel-de-Santa-Clara?
— Doces portugueses são todos de ovos! Eu odeio…
Uma vez, liguei a televisão, na manhã de uma sexta desempregada e um programa de culinária ensinava a fazer uma torta portuguesa cujo recheio era nada mais nada menos de ovos-moles com fio-de-ovos. Irritei-me no acto.
A furibunda defesa dos ovos como alimento primordial, base de tudo, feita pelos meus pais irritou-me muito. Bebi mais uma taça de vinho e fui tirar o consueto cochilo dominical.
* * *
À noite, durante o meu jantar de sanduíches (risoto no microondas nem pensar), começou a discutir-se de religião. Queriam provar-me que eu não era ateu.
— Quem tem medalha de santo… de qual santo que você tem medalha?
— São Bento…
— Então; você tem medalhinha de santo; então acredita em alguma coisa…
— Não. O que tem a ver o cós com a calça?
— Não é possível que você não acredita em nada. – escarneceu meu pai.
— Claro que ele acredita! – interveio minha mãe.
— Não, não. – abanei a cabeça.
Então foi a minha vez, rebaixei o clero ao nível dos porcos, citei um poema do Fernando Pessoa no qual o Espírito Santo é uma pomba que suja cadeiras e Deus é um velho emburrado.
— Religião é coisa de atrasados! Podem ver! Os primeiros deus são representações das forças naturais; e apesar de já terem escrito isso, sabe-se-lá-deus-quem, consegui chegar à essa observação sozinho! Porque?! Porque exclusa a carolice e o fanatismo, isso é facilmente visível.
— Mas o Deus católico… - tentou intervir a minha mãe.
— Que Deus católico?! É tudo representação da mesma «força oculta» (fiz um gesto com os dedos, mostrando aspas). Que Deus!
Algumas blasfêmias.
— E mais! O Papa morreu, não morreu? Se o representante de Deus sucumbe, o Cornudo está à solta na face da terra.
Ficaram petrificados. Fui para o quarto.
8 Comentários:
Ah. ok. e o papa se materializar só pra você não te diz nada não né?
aconteceu com vocês também? ontem, de novo, ele estava vestido de branco, mas brilhava mais.
Eu sofro com isso, mas é com cebola...
o papa te aparece em forma de cebola? terrível...
cebola tem cheiro de espírito, me disseram.
mas é cheiro de espírito alemão. o papa era polonês, né. acho que a gente mantém a nacionalidade mesmo depois de morto, quer dizer, em espírito.
... de papa e de ovos, meteram uma cebola... hiiiii... tá parecendo omelete!!!
Isso aqui é um blogue sério; não é o sítio do Mais você. As vossas cebolas, os vossos tomates, os vossos alhos que vão para a feira!
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