Fumigação da consciência
«Il furto d'amore sarà punito
dall'ordine costituito.»
(Bocca di Rosa, F. De Andrè)
Hoje, o dia não nasceu. Pariu-se horrivelmente; mas, incrivelmente acordei de bom humor; risadas logo cedo, ainda tomando café, rimos bastante eu e a minha irmã. Saído de casa, incrivelmente, peguei o ônibus e fui sentado, idem no metrô, também no trem; e apesar do dia cinzento, as ervas-daninhas mais-que-sem-vergonhas riam nos seus domínios, entre as estações Imperatriz Leopoldina e Presidente Altino. Mesmo assim, algo batia no fundo da alma, como uma fanfarra militar e de vez em quando, dava sobressaltos. E na Praça do Relógio, sentado no banco húmido, preenchendo mais um caderno de inutilidades temporais, um pouco cismado ainda, e cismando muito, mascando assuntos da véspera: latins, neerlandeses, De André. E pensando numa crucial correspondência electrônica que eu deveria enviar dentro de alguns minutos; ruminava ainda o seu formato, as suas citações subtis, sim deveriam ser todas subtis; a linguagem, em suma, deveria ser subtil. Afinal, são assuntos delicados. De improviso, restei-me congelado. Do Anfiteatro, o vento trazia, igualmente subtil, parte do ensaio da Orquestra: e era o último movimento da Nona Sinfonia de Beethoven; Tochter aus Elysium! Senti que parte do sentimento incomodo cedeu. Tomei coragem e pus-me a andar, havia uma carta a escrever.
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