258. Letávia - IV parte
Ao Jefferson, que me cobrou da aparente inactividade.
IV
Rua da Avícola, próxima da praça Czernoczékow; paralela à praça, duas quadras para cima. Aí há uma agência, a Agência Matriz do Banco Popular e Nacional - Naradnaja i Gassudrastvénnaja Banka, mais conhecido pela abreviação Nagoban -; banco estatal para diversas coisas: fomento à agricultura, empréstimos pessoais para pequenos negócios, para compra de armas - isso desde que a legislação «nacional e oclocrática» permitiu ao cidadão letavo possuir armas desde que pertencesse a uma das seis milícias nacionais voluntárias -, e algumas outras coisas. Mas a maior e excelsa função desse banco era a concessão de fundos espontâneos para os parlamentares, assessores de ministros, ministros, pessoas fidedignas e digníssimas indicadas por outras igualmente excelsas e desconhecidas, mas muito poderosas e generosas.
No térreo do prédio da rua da Avícola, o interior da agência era escuro; móveis e gradis de madeira escura, o odor predominante era da madeira. Logo na entrada, umas mesas e por detrás do gradil algumas outras, destinadas aos supervisores e no fundo, o gabinete do gerente e a porta da Tesouraria; num canto os dois elevadores para acessar os seis andares do colosso de tijolos, inclusive o Departamento de Emissão, responsável pela emissão das coroas letavas e também o gabinete do Presidente do Banco, que é de indicação do Ministro das Finanças.
Além da Agência Matriz, o grande Banco possuía outras sete: uma no bairro belavodense de Czétiry Dómoj, outra, já no último distrito da cidade antes da campanha, o de Tjevánnaja; e mais quatro em quatro cidades letavas - visto que o país todo era dividido em dez cidades mais a capital -: Njemántsk, Brátska, Narádna e Czernavoda. Trabalhar na Matriz, na Capital era a vontade suprema de todos os funcionários alocados fora da capital, sonho de realização pessoal. «A vida está na capital», disse certa vez um Auxiliar de Escrita, «aqui em Brátska, em meio aos porcos desses vilãos imundos, que se pode esperar? Só vêm fazer empréstimos para que os porcos não lhes morram de fome. Outro dia, um suinocultor de Bela Bystrica, ali, um distritinho rural da cidade, veio pagar-me a parcela do empréstimo, coisa de umas 200 ou 250 coroas, em lingüiças. Eram uns vinte quilos. Eu não podia aceitar o pagamento: "senhor, não temos cofre refrigerado", argumentei, "fora que pagamento em gêneros, somente com autorização da Matriz". É, aquela droga daquele decreto, droga não, perdão; aquele infeliz decreto sancionado pela Dieta, que permite que os agricultores e criadores paguem duas dívidas em gêneros. O resultado foi que homem saiu emburradíssimo, pois eu lhe disse que precisava de autorização da Matriz e que demorava uns dois, três dias. "Até lá toda essa lingüiça vai estragar!" rebateu o homem exasperado, "eu não tenho geladeira!". Eu, Dima e Andrei fizemos uma vaquinha e compramos as lingüiças, pois o homem começou a espumar de raiva e disse que nos ia denunciar como traidores, falar que nós não tínhamos feito a tropa; o que é facilmente desmentido por documentos, os nossos, mas até conseguirmos fazê-lo, seríamos exonerados e exonerariam as nossas cabeças dos nossos corpos; então nós três compramos todos aqueles quilos de lingüiças do camponês; e como toda comida da região da Falha Norte, extremamente apimentada; fiquei dias, quase duas semanas comendo lingüiça e chorando à mesa por causa da pimenta; não agüento mais, por isso pedi transferência para Belavoda, para qualquer uma das três, Matriz ou as de bairro. A campanha me enoja!».
Havia ainda um sonho maior ainda, a agência no exterior a agência de Bautzen, na Alemanha.
IV
Rua da Avícola, próxima da praça Czernoczékow; paralela à praça, duas quadras para cima. Aí há uma agência, a Agência Matriz do Banco Popular e Nacional - Naradnaja i Gassudrastvénnaja Banka, mais conhecido pela abreviação Nagoban -; banco estatal para diversas coisas: fomento à agricultura, empréstimos pessoais para pequenos negócios, para compra de armas - isso desde que a legislação «nacional e oclocrática» permitiu ao cidadão letavo possuir armas desde que pertencesse a uma das seis milícias nacionais voluntárias -, e algumas outras coisas. Mas a maior e excelsa função desse banco era a concessão de fundos espontâneos para os parlamentares, assessores de ministros, ministros, pessoas fidedignas e digníssimas indicadas por outras igualmente excelsas e desconhecidas, mas muito poderosas e generosas.
No térreo do prédio da rua da Avícola, o interior da agência era escuro; móveis e gradis de madeira escura, o odor predominante era da madeira. Logo na entrada, umas mesas e por detrás do gradil algumas outras, destinadas aos supervisores e no fundo, o gabinete do gerente e a porta da Tesouraria; num canto os dois elevadores para acessar os seis andares do colosso de tijolos, inclusive o Departamento de Emissão, responsável pela emissão das coroas letavas e também o gabinete do Presidente do Banco, que é de indicação do Ministro das Finanças.
Além da Agência Matriz, o grande Banco possuía outras sete: uma no bairro belavodense de Czétiry Dómoj, outra, já no último distrito da cidade antes da campanha, o de Tjevánnaja; e mais quatro em quatro cidades letavas - visto que o país todo era dividido em dez cidades mais a capital -: Njemántsk, Brátska, Narádna e Czernavoda. Trabalhar na Matriz, na Capital era a vontade suprema de todos os funcionários alocados fora da capital, sonho de realização pessoal. «A vida está na capital», disse certa vez um Auxiliar de Escrita, «aqui em Brátska, em meio aos porcos desses vilãos imundos, que se pode esperar? Só vêm fazer empréstimos para que os porcos não lhes morram de fome. Outro dia, um suinocultor de Bela Bystrica, ali, um distritinho rural da cidade, veio pagar-me a parcela do empréstimo, coisa de umas 200 ou 250 coroas, em lingüiças. Eram uns vinte quilos. Eu não podia aceitar o pagamento: "senhor, não temos cofre refrigerado", argumentei, "fora que pagamento em gêneros, somente com autorização da Matriz". É, aquela droga daquele decreto, droga não, perdão; aquele infeliz decreto sancionado pela Dieta, que permite que os agricultores e criadores paguem duas dívidas em gêneros. O resultado foi que homem saiu emburradíssimo, pois eu lhe disse que precisava de autorização da Matriz e que demorava uns dois, três dias. "Até lá toda essa lingüiça vai estragar!" rebateu o homem exasperado, "eu não tenho geladeira!". Eu, Dima e Andrei fizemos uma vaquinha e compramos as lingüiças, pois o homem começou a espumar de raiva e disse que nos ia denunciar como traidores, falar que nós não tínhamos feito a tropa; o que é facilmente desmentido por documentos, os nossos, mas até conseguirmos fazê-lo, seríamos exonerados e exonerariam as nossas cabeças dos nossos corpos; então nós três compramos todos aqueles quilos de lingüiças do camponês; e como toda comida da região da Falha Norte, extremamente apimentada; fiquei dias, quase duas semanas comendo lingüiça e chorando à mesa por causa da pimenta; não agüento mais, por isso pedi transferência para Belavoda, para qualquer uma das três, Matriz ou as de bairro. A campanha me enoja!».
Havia ainda um sonho maior ainda, a agência no exterior a agência de Bautzen, na Alemanha.
Para quem não conhece quem escreve esse monte de asnidades (afinal, não consigo pôr a fotografia no perfil do Blogger, pois ela deve estar alocada em algum outro servidor). Um abraço a todos.
5 Comentários:
Agradeço a dedicatória. Precisamos marcar uma cerveja, com lingüicinhas apimentadas...
essa foto me revela que és o cara dos meus sonhos...
Uia!
Eu não conheço o Jeferson, mas concordo com ele: Você faz imensa falta na net! (risos)
Beijos
Ca
óoooo afinal é o verdadeiro principe de venardis!
faz a barba moço!
Jefferson,
As cervejas e os acepipes sempre são bem-vindos... só não me comprometo esse próximo final-de-semana por que urgem outros compromissos.
Lela,
Assim me enrubeces.
Camila,
Não tenho assim tanta certeza...
Sem Cantigas,
Pois bem, eis-me. Mas eu gosto da barba...
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